Numa declaração conjunta divulgada hoje, as três formações políticas não dizem como chegaram à estimativa, assim como não foi possível contactá-las, sublinha a agência Associated Press. As comunicações continuam a ser um desafio em grande parte da província etíope no norte do país, o que dificulta a verificação das reivindicações de qualquer dos lados envolvidos no conflito.
Desde o início dos combates, no dia 04 de novembro, entre as Forças Armadas etíopes e as forças da província autónoma do Tigray – administrada por um partido (Frente de Libertação do Povo Tigray — TPLF, na sigla em inglês), que dominou o Governo da Etiópia durante quase três décadas até à tomada de posse do atual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, em 2018 – não foi divulgado qualquer registo oficial de mortos.
Os partidos da oposição no Tigray consideram na declaração que a comunidade internacional deveria assegurar a retirada imediata dos combatentes, incluindo soldados da vizinha Eritreia, que testemunhas dizem estar a apoiar as forças etíopes.
As formações políticas apelam igualmente a que seja aberta uma investigação independente do conflito, assim como ao diálogo, ao envio de mais ajuda humanitária e ao acesso dos meios de comunicação social ao terreno para que possam “cobrir o que está a acontecer”.
Segundo vários testemunhos, têm vindo a ser mortos civis em toda a região do Tigray, cuja população ascende a cerca de seis milhões de pessoas, vítimas de ataques direcionados, fogo cruzado, doenças e falta de recursos.
Alguns elementos da nova administração da província, nomeada pelo Governo de Abiy Ahmed, advertiram que estão a morrer pessoas de fome, uma vez que vastas áreas para além das estradas principais e afastadas das cidades se mantêm fora do alcance de qualquer eventual ajuda.
Os partidos da oposição afirmam que a fome foi provocada por ação humana, o gado foi morto e roubado, as colheitas queimadas e as casas saqueadas e destruídas. A declaração foi assinada pelo Partido da Independência do Tigray, o Congresso Nacional do Grande Tigray e o partido Salsay Weyane Tigray.
O texto acusa o Governo da Etiópia de “utilizar a fome como arma para subjugar o Tigray, uma vez que tem obstruído os esforços internacionais de facilitação de assistência humanitária”. O Governo da Etiópia, em contrapartida, afirmou já que a ajuda está a ser entregue e quase 1,5 milhões de pessoas foram alcançadas.
As Nações Unidas e outras organizações têm vindo a pressionar Adis Abeba no sentido de ser permitido um maior acesso humanitário e encontrada uma solução para ultrapassar um sistema complicado de autorizações por parte de uma ampla variedade de autoridades, incluindo as que se encontram no terreno.
“Em 40 anos de funcionário humanitário, raramente vi um tão grande impedimento da ajuda”, afirmou na segunda-feira o chefe do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, na rede social Twitter.
O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, descreveu na segunda-feira a situação no Tigray como “extremamente grave”, depois de uma visita à província. O diplomata italiano acrescentou que as autoridades nomeadas no Tigray e os ministérios etíopes lhe fizeram chegar um “apelo muito forte” para mais ajuda internacional.
O Tigray acolhia 96.000 refugiados da Eritreia em vários campos na região antes do início dos combates, e Grandi disse ter falado com algumas dessas pessoas, que foram apanhadas sob fogo cruzado, e não tiveram mais do que “folhas” para comer durante semanas. Outros foram forçados a regressar à Eritreia pelas forças do país vizinho deslocadas no Tigray, acrescentou o ACNUR, sem esclarecer quantas.
Dois dos quatro campos de refugiados eritreus no Tigray permanecem inacessíveis, e “o mais provável é que já não haja aí refugiados”, disse Grandi.
Citando imagens de satélite, a organização sem fins lucrativos DX Open Network, com sede no Reino Unido, anunciou relatou ter observado mais destruição nos campos Hitsats e Shimelba nas últimas semanas, levada a cabo por grupos armados não identificados, que visaram inclusivamente instalações humanitárias.
Cerca de 20.000 refugiados foram “dispersos” em áreas onde os trabalhadores humanitários não têm acesso, indicou Filippo Grandi.
O ACNUR apelou a que seja aberta uma investigação independente e transparente sobre alegados abusos, descrevendo a situação como “muito complexa”. “Tem havido muito fogo cruzado, muitas violações por parte de todos os lados”, incluindo combatentes aliados do Tigray, afirmou.
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