“Oito militares, perante o grau de ameaça, era o mínimo que poderia ser exigido. Podia não ser o desejável, era o mínimo”, afirmou o coronel que comandou entre 2013 e 2016 um dos regimentos responsáveis pelo patrulhamento dos paióis, numa audição na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos, crime que ocorreu em junho de 2017.

Ao longo de três horas, o coronel, agora na reserva, respondeu a três rondas de perguntas dos partidos, muito centradas em saber se comunicou as insuficiências e problemas de segurança das instalações e se considerava suficientes os efetivos para o patrulhamento que, em 2007, passou de cerca de 40 homens para oito (e não seis, como disse o CDS).

Desde o início da reunião, Joaquim Vieira Esperança afirmou que “houve conversas” entre os responsáveis das unidades que tinham por missão vigiar o local onde estava o material militar e com outros, no escalão superior da hierarquia militar.

"A segurança do paiol era a considerada conveniente pelo escalão superior", acrescentou, ou seja, comandantes e chefias militares.

No final, afirmou, em resposta a uma pergunta de Jorge Machado, do PCP, que fez vários alertas, “por escrito” e aos seus superiores hierárquicos, dos problemas detetados, antes e durante o tempo que comandou o regimento.

Para o coronel, oito militares a patrulhar uma área como os paióis de Tancos (18 paióis, em 34 hectares, num perímetro de 2.700 metros) é o mínimo e explicou o sucedido com os sucessivos cortes orçamentais.

Tendo em conta o nível da ameaça, reduzido, e dizendo que “oito militares não é uma força desprezível”, Vieira Esperança apontou as muitas solicitações do Exército, nomeadamente no regimento de Tomar, com envio de forças para o Iraque, por exemplo.

À pergunta sobre se era o pessoal suficiente, o coronel afirmou que "é o espelho de muitas outras instalações do Exército", tendo em conta o orçamento das Forças Armadas.

"Com o pouco que temos, tentamos fazer o melhor que podemos", descreveu.

Discussão ainda deu a informação do coronel na reforma, e repetida pelo deputado socialista Ascenso Simões, de que os oito militares (um sargento, um cabo e seis soldados) teriam mais “três ou quatro grupos”, o que perfazia cerca de 30 homens, próximo do número que tinha antes de 2007.

Telmo Correia, do CDS-PP, citou um documento oficial do Governo para insistir na tese de que seriam apenas oito os militares e o próprio coronel Esperança afirmou que pode “haver aqui alguma informação errada”.

A segurança dos paióis era feita por militares cedidos pelo regimento de Tomar, Brigada de Reação Rápida e Brigada Mecanizada.

Ex-comandante afirma que objetivo dos assaltantes era munições 9 mm

“Em minha opinião pessoal, o objetivo [do furto] eram as munições de 9 mm”, afirmou, até com base “em conversas com camaradas”, o coronel.

Sem deixar de considerar “muito grave” o furto do material dos paióis de Tancos, nomeadamente por causa das munições de 9 mm, o coronel, na reserva, relativizou a perigosidade dos restantes armamentos, referindo que algum dele foi considerado obsoleto e que a “quantidade de explosivos” furtado não justifica a alteração do nível de alerta do país.

Uma das missões era controlar as entradas na base e a vigilância dos locais, mas os soldados do seu regimento não tinham acesso ao interior dos 18 paióis existentes em Tancos, explicou.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017.

O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.

Entre os detidos está o diretor da PJM e um civil (que já foi militar), principal suspeito da prática do furto, encontrando-se ambos em prisão preventiva, num caso que levou à demissão de Azeredo Lopes do cargo de ministro da Defesa e cujas implicações políticas levaram à criação de uma comissão parlamentar de inquérito.

Em setembro, após a investigação do Ministério Público à recuperação do material furtado, designada “Operação Húbris”, que levou às detenções, foi anunciada pelo CDS-PP a constituição de comissão de inquérito parlamentar, aprovada apenas com a abstenção do PCP e do PEV.