Lucy Flores, indicada pelos democratas para vice-governadora de Nevada em 2014, revelou que estava junto ao palco à espera para discursar num comício quando Biden colocou as mãos nos seus ombros por trás, agarrou-a, cheirou-lhe o cabelo e "deu um forte beijo lentamente na parte de trás da minha cabeça".

"Fiquei com muita vergonha", escreveu Flores, de 39 anos, num texto publicado na revista New York, descrevendo que ,"enquanto uma jovem latina a entrar na política", diz nunca ter "experienciado nada tão descaradamente inapropriado e enervante " na vida, considerando que "mesmo que o seu comportamento não estivesse a ser violento ou sexual, foi humilhante e desrespeitador".

"O meu cérebro não conseguia processar o que estava a acontecer. Fiquei com vergonha, chocada, embaraçada (...). Só o queria longe de mim", acrescentou.

Biden, de 76 anos, deve anunciar a sua entrada na corrida pelos Democratas à Casa Branca já em abril.

Citado pela CNN, Bill Russo, porta-voz de Biden, declarou ontem que o democrata ficou "encantado" com o apoio à candidatura de Flores, mas não se recorda do incidente.

"Na ocasião ou nos anos posteriores, Biden e o pessoal que estava com ele naquele momento jamais tiveram a menor ideia de que a senhora Flores tinha ficado incomodada e também não se recordam do que ela descreve", disse Russo.

Biden "acredita que a senhora Flores tem o direito de compartilhar as suas recordações e pensamentos, e que é uma mudança positiva em nossa sociedade que tenha a oportunidade de fazê-lo".

A postura excessivamente íntima de Biden com as mulheres tem sido tema de debate há anos, sendo conhecido por tocar em mulheres sem formalidade, incluindo esposas e filhas de políticos, em cerimónias de posse. Em 2015, por exemplo, foi interpelado por massagear as costas da mulher do então secretário de Defesa, Ash Carter.

Para Flores, o problema prende-se justamente com "o desequilíbrio de poder e atenção" que é dado a figuras poderosas como a de Biden, pois, mesmo não querendo sugerir que o ex-vice presidente dos EUA tenha quebrado leis, a ex-legisladora lembra que "as transgressões que a sociedade julga como menores (ou que a sociedade não considera serem transgressões), são frequentemente marcantes para as pessoas que as sofrem."

O comportamento de Biden volta a chamar a atenção na era do #MeToo, o movimento contra o assédio e o abuso sexual que já provocou a queda de dezenas de políticos, artistas e empresários.

Num jantar do Partido Democrata em Delaware este mês, Biden admitiu que seu estilo pode gerar questões. "Sou um político tátil, sempre fui. Isto me traz problemas".