“Podemos parar fábricas de automóveis em toda a Europa de um dia para o outro e isso é algo que Portugal não pode arriscar, porque seria uma perda de imagem terrível e travaria o investimento do setor em Portugal”, disse à Lusa Tomás Moreira.

O presidente da AFIA falava à Lusa em declarações à margem do 9.º encontro da indústria automóvel que decorreu hoje em Ílhavo.

Tomás Moreira realçou que Portugal tem conquistado investimento estrangeiro e as empresas portuguesas têm-se desenvolvido, porque “tem havido muito baixa conflitualidade e não tem havido obstáculos à livre circulação de mercadorias”, uma realidade que poderá mudar com o aumento de greves.

“Espero que haja a consciência das pessoas responsáveis por esse tipo de situações para não afetar de uma forma significativa os fluxos de mercadorias, porque isso tem consequências a muito longo prazo. Isso não nos afeta as vendas do dia ou da semana. Isso afeta todo o nosso desenvolvimento a médio e longo prazo”, sublinhou.

O representante dos fabricantes para a indústria automóvel referiu ainda que o mercado europeu de construção de automóveis está a estagnar, “fruto de mudanças que há no setor, tecnológicas, na mobilidade, nos hábitos das pessoas”, o que exige um maior investimento das empresas e apoio por parte do Estado.

“O Estado tem de facilitar esta transição e estas transformações, não sobrecarregando as empresas com custos não só na fiscalidade, mas também custos que estão escondidos na energia, nos combustíveis, nos transportes”, disse Tomás Moreira.

A falta de mão-de-obra qualificada e a falta de alternativas à rodovia, a longo prazo, são outras das preocupações do setor que em 2018 teve um volume de negócios de 11,3 mil milhões de euros.

“No futuro, haverá restrições e sobrecustos para os transportes rodoviários e nós precisamos de alternativas por via marítima e via ferroviária”, disse Tomás Moreira, adiantando que aquilo que existe hoje “não é suficientemente competitivo e operacional” para as necessidades do setor.

Referindo-se aos projetos anunciados pelo Governo para a ferrovia, o presidente da AFIA disse que "não estão a ser feitos os investimentos que o setor precisa", temendo que Portugal possa ficar "transformando numa ilha e separado do resto da Europa, sem possibilidades de aceder por via ferroviária".