“Em nossa opinião até seria pôr em causa a própria Constituição da República Portuguesa uma vez que ela em vários dos seus artigos, quando fala da necessidade de haver uma escola pública, também diz que essa escola é também para que seja a promotora da igualdade de oportunidades”, afirmou Mário Nogueira.
O dirigente sindical falou hoje aos jornalistas, numa conferência de imprensa em que divulgou os resultados de um inquérito realizado pela estrutural sindical durante as primeiras duas semanas de maio, a que responderam 3.548 docentes
De acordo com os resultados, cerca de 93,5% dos professores concordaram que as desigualdades se agravaram durante este período, desde 16 de março, quando as atividades letivas presenciais foram suspensas como forma de conter a propagação do novo coronavírus que provocou a pandemia de covid-19.
“Sobretudo, os professores destacam dois aspetos e em relação aos alunos é o terem disparado as desigualdades, que têm origens diversas”, referiu Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), afirmando que o segundo aspeto foi o trabalho exaustivo.
Estas desigualdades, acrescenta, decorrem não só da dificuldade que alguns alunos tiveram em aceder aos meios tecnológicos para acompanhar as aulas ‘online’, mas também do facto de muitos não terem autonomia digital, dos diferentes níveis de acompanhamento por parte das famílias e da forma como as próprias escolas conduziram o trabalho à distância.
Durante a apresentação dos resultados, Mário Nogueira sublinhou ainda que 54,8% dos professores admitiram não ter conseguido chegar a todos os alunos até meados de maio, referindo também que, apesar de a maioria (cerca de 70,5%) ter optado por lecionar novos conteúdos, destes só 47,8% vai avaliar as matérias dadas em ensino à distância.
Sobre a avaliação, o secretário-geral da Fenprof disse ainda que a decisão de auditar as avaliações dos alunos para travar a inflação das notas, seria bem-vinda num contexto normal, mas pode ter o efeito inverso e contribuir para situações de injustiça.
“No meio de tanta diversidade, uniformizar critérios de avaliação pode ser, em nome da justiça, criar situações injustas”, referiu.
A maioria dos profissionais (92,9%) considera também que os défices que resultarem deste ano letivo devem ser superados no próximo ano, preferencialmente através da integração das matérias que ficaram no próximo ano letivo, opção apontada por 84,1%.
“Este foi um ano de exceção, mas o próximo ano vai ser um ano em que também se vai refletir muito o que se passou agora”, sublinhou Mário Nogueira.
Considerando que o modelo de ensino à distância não pode ser uma alternativa permanente, o secretário-geral da Fenprof admitiu a possibilidade de a solução se manter, pelo menos, no início do próximo ano.
Esse cenário deve estar previsto no despacho normativo de organização do ano letivo que, noutros anos e sem alterações de fundo, já estava a ser preparado nesta altura, sublinhou Mário Nogueira, acrescentando que toda a comunidade escolar deve participar nessa discussão, mas “até agora, o Ministério da Educação não deu sinal de vida sobre isso”.
“As escolas, para abrirem em setembro, começam-se a organizar agora e, portanto, o Ministério da Educação deve reunir para fazer esta discussão, porque ela é fundamental num ano tão diferente como aquele que se prevê que ainda seja o próximo”, afirmou o dirigente sindical.
Em declarações aos jornalistas, Mário Nogueira comentou o pacote de 400 milhões de euros, anunciado na sexta-feira pelo Governo, para apoiar a Escola Digital, considerando que será “bem-vindo” se for direcionado para a atualização do parque tecnológico e para a formação dos docentes nas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
“Se for para eternizar o ensino à distância e não apenas para o ter preparado para eventuais situações excecionais que surjam, então será dinheiro mal gasto”, afirmou.
O secretário-geral da Fenprof sublinhou ainda que os resultados do inquérito apontam para um sentimento de abandono referido pelos docentes, sendo que 58,9% dos inquiridos afirmam não se ter sentido apoiado pela tutela durante este período, sendo que a maioria dos docentes sentiu-se, sobretudo, apoiada pelas direções das escolas e pelas famílias dos alunos.
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