O escritor português Pedro Chagas Freitas lançou um pedido nas redes sociais: é necessário "um dador de fígado compatível" para o filho, Benjamim, de seis anos.

"Terá idealmente de ser alguém com não mais de 55 anos de idade e no máximo 1,75 metros de altura e até 75 quilos de peso. O tipo de sangue terá de ser 0 (positivo ou negativo)", escreveu.

Numa publicação seguinte, o escritor anunciou que já foi reunida "uma excelente base de possíveis dadores" e que o próximo passo será "escolher a melhor opção" para o caso de Benjamim.

Não foi divulgado o motivo exato para a necessidade de transplante, mas publicações anteriores mostram que o menino já é seguido no Hospital Pediátrico de Coimbra há algum tempo.

Os transplantes hepáticos pediátricos são frequentes?

Coimbra tem tradição neste tipo de intervenção, já que foi onde ocorreu o primeiro transplante hepático pediátrico no país, a 20 de janeiro de 1994, promovido pela Unidade de Hepatologia e Transplantação Hepática Pediátrica (UHTH) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Foram realizados 103 transplantes hepáticos pediátricos no país entre 2014 e 2023, nove deles no último ano. Contudo, a melhoria dos cuidados médicos e os novos fármacos estão a contribuir para a redução anual desta intervenção.

Segundo referiu em janeiro deste ano Isabel Gonçalves, atual responsável pela UHTH, esta é uma "diminuição positiva", que já é observada nos Estados Unidos da América e nos principais centros da Europa e com "tendência para continuar".

A redução deve-se "ao facto da otimização de cuidados médicos na doença crónica ter melhorado muito ao longo destes 30 anos e, particularmente, nos últimos 15, terem surgido no mercado novos fármacos para doenças congénitas, que provavelmente vão minorar muito dos sintomas e manter estes doentes muito mais estáveis, se calhar até à vida adulta".

A média de transplantes anuais no único centro nacional era de 10 a 12 por ano, excetuando o ano de 1997 em que foram efetuados 17, mas que a tendência é para transplantar sete a oito por ano.

Nestes 30 anos de atividade, aquela unidade realizou 307 transplantes em 260 crianças, já que algumas têm de ser novamente intervencionadas.

A unidade de transplantes hepáticos pediátricos do CHUC recebe as crianças e jovens dos países de língua oficial portuguesa (PALOP), que desde 1997 representam entre 10 a 12% do total de transplantes efetuados, embora nos últimos tempos o número também tenha diminuído.

Como acontece a doação de órgãos em vida?

No caso de Benjamim, tudo indica que o transplante vai ocorrer de uma doação de um dador vivo, "uma pessoa saudável e legalmente capaz, que concorde com a doação e que é exposto ao risco de uma cirurgia para benefício de outra pessoa".

Segundo o SNS, a "doação em vida é possível caso se obedeça às condições e requisitos estabelecidos na legislação", nomeadamente "ter 18 ou mais anos de idade" e "ser saudável física e mentalmente".

"As equipas médicas das unidades de transplantação com programa de dador vivo são responsáveis pela avaliação do dador vivo, garantindo os seus direitos, liberdade de decisão, voluntariedade, gratuitidade e altruísmo", explica o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST).

Como "cada caso tem as suas próprias particularidades", é recomendado que seja consultada "a unidade de transplantação para responder às dúvidas sobre o processo de doação em vida".

Nestes casos, "o dador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado ou parte dos pulmões".

Há situações que possam impedir a doação?

Sim, já que "é obrigatório assegurar que o dador não tem nenhuma patologia ou doença transmissível pelo órgão ou tecido a quem os vai receber".

Assim, "todos os possíveis dadores são avaliados para excluir situações como tumores malignos, infeções por certos agentes patológicos ou algumas doenças degenerativas do sistema nervoso".

Quais os riscos de doar um órgão em vida?

A doação de um órgão não deixa de ser uma cirurgia e, como tal, estão sempre riscos envolvidos, como uma reação à anestesia, uma lesão em tecido ou outros órgãos, uma infeção, coágulos de sangue ou hemorragias. Em casos graves (e raros), pode conduzir à morte do dador.

No caso do fígado, como é doada apenas uma parte do órgão, pode também acontecer algum dano ou falha no que não é doado, daí ser necessário acompanhamento médico.

Todavia, os riscos ao longo da vida para pessoas saudáveis são considerados baixos.

Há custos envolvidos na doação?

Segundo o IPST, "os custos deste processo são assegurados pelo sistema de saúde ao qual pertence o doente. O órgão doado é transplantado gratuitamente, independentemente da condição social e económica do doente que o recebe. Toda a terapêutica associada ao transplante é suportada pelo Serviço Nacional de Saúde, e respetivos hospitais onde são efetuados os transplantes".

E o que acontece depois do transplante?

O processo de acompanhamento do doente e do dador continua, com "consultas de acompanhamento periódicas", e para o recetor será necessária a "prescrição de medicamentos imunossupressores". No caso de rejeição do órgão, "poderá ser oferecido ao doente um novo transplante".