A Fruta Feia arrancou em Lisboa a 18 novembro de 2013 e conta atualmente com sete pontos de entrega (quatro na zona de Lisboa e três na zona do Porto) e perto de três mil consumidores associados (2.950). Semanalmente, a iniciativa evita, através da venda direta ao público, que cerca de oito toneladas de fruto-hortícolas vão parar ao lixo.
“Chegar às 500 toneladas é muita fruta”, afirmou à Lusa, com orgulho, Isabel Soares, uma das quatro mentoras do projeto, admitindo que a equipa fundadora “nunca pensou ou imaginou sequer” chegar até estes números em “tão pouco tempo”.
A cooperativa, cujo lema é 'gente bonita come fruta feia', opera através da recolha de produtos hortícolas e frutícolas da época junto dos agricultores, para depois vendê-los frescos em cabazes ao consumidor final.
Os associados podem comprar frutícolas e hortícolas a um custo mais baixo do que é vendido atualmente nos mercados e nas grandes superfícies. O nome do projeto deve-se ao facto de produtos não conseguirem atingir o calibre, a cor ou o formato que está normalizado atualmente no mercado.
Segundo Isabel Soares, atingir as 500 toneladas significa que atualmente a cooperativa está a comprar oito toneladas de desperdício por semana aos agricultores, ou seja, “oito toneladas de produtos de qualidade que estão a deixar de ir para o lixo” devido ao trabalho da equipa.
Quando os fundadores se aventuraram há três anos, depois de terem vencido um concurso de ideias promovido pela Gulbenkian e de terem sido galardoados com o 2.º prémio FAZ - Ideias de Origem Portuguesa, no valor de 15 mil euros, o projeto contava com um trabalhador, dez agricultores e 400 quilos de fruta e hortícolas de desperdício evitado por semana, num único ponto de entrega.
“É importante termos conseguido montar um modelo que é economicamente autossustentável. Normalmente os projetos sociais não se conseguem manter. Nós conseguimos montar um modelo em que as receitas derivadas da venda da fruta são suficientes para cobrir os custos que temos”, explicou Isabel Soares.
Isabel Soares reconhece que atualmente, considerando as perspetivas iniciais, era suposto estarem nos 380 consumidores.
“Os números provam que este modelo funciona. Há muito desperdício para ser resgatado e muitos consumidores interessados em unirem-se a esta luta”, afirmou, acrescentando que o modelo de proximidade com os agricultores, em que não há intermediários, funciona.
Isabel Soares reiterou que o projeto Fruta Feia conseguiu “mostrar ao mundo que outro tipo de consumo é possível” - aquele em que se paga aos agricultores “o preço justo”, dando ainda para o transporte e os salários das pessoas que trabalham na cooperativa.
No futuro próximo, Isabel Soares indicou que o objetivo é aumentar “cada vez mais o impacto” do programa, reconhecendo que “ainda há desperdício para ser evitado”.
“O desperdício alimentar devido à aparência é um problema enorme. Debatemo-nos com um monstro, em média 30% do que é produzido pelos agricultores, o que ainda é muita coisa. Ainda há trabalho a fazer nesta área e queremos continuar a resgatar esses produtos do lixo”, afirmou.
Para 2018 a ideia é abrir mais uma delegação da Fruta Feia em Coimbra, disse a responsável, avançando tratar-se de uma zona em que o número de interessados tem vindo a aumentar.
Em parceria com o Instituto Superior Técnico (IST) e a Câmara Municipal de Lisboa, a Fruta Feia obteve um financiamento da União Europeia, através do programa FLAW4LIFE (Spreading Ugly Fruit against Food Waste), cujos pilares são a replicação da cooperativa a nível nacional, a monitorização do seu impacto sócio-ambiental e o envolvimento da comunidade escolar.
Os mais recentes dados da Organização para Alimentação e Agricultura da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente.
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