Questionado pela agência Lusa à margem da inauguração de uma creche em Ponte de Lima, Vieira da Silva sustentou que “sem esse equilíbrio, o custo que recai sobre os portugueses não é suportável”.

O ministro sublinhou o direito dos trabalhadores a lutar pelos seus interesses, que considerou “legítimos”, mas destacou que “quem governa tem de ter em atenção os interesses globais do país, procurando ir ao encontro das reivindicações sempre que elas sejam razoáveis e possíveis de concretizar”.

Isto, disse, “exige uma dupla preocupação: melhorar os rendimentos, melhorar o funcionamento da economia. Para isso, precisamos de continuar na trajetória de equilíbrio das contas públicas que ajuda a baixar os custos do nosso endividamento. Ao fazê-lo, haverá mais recursos para os serviços públicos essenciais, para as áreas que são fundamentais para o desenvolvimento do país”.

Segundo o ministro, essa é uma trajetória que o Governo tem percorrido, “cumprindo um programa, recuperando a credibilidade externa do país. É a trajetória que iremos continuar, sempre em diálogo e sempre procurando pontos de consenso e de convergência com as várias forças, em particular com as forças sindicais”.

Retomar as negociações

O secretário geral da CGTP, Arménio Carlos, afirmou que a greve da Função Pública hoje a decorrer sinaliza que os trabalhadores não abdicam de continuar a lutar pela defesa da sua dignidade, exigindo a reabertura das negociações.

“A melhor forma de o fazer é ter em conta as reivindicações da Frente Comum e, simultaneamente, reabrir um espaço de discussão. Não de uma discussão simulada, mas de uma discussão efetiva para responder aos problemas”, disse o líder da CGTP, que falava em frente da Escola Marquesa de Alorna que hoje está encerrada.

A coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, também presente no local, disse que os objetivos da greve “estão a ser reconhecidos pelos trabalhadores”, o que pode se avaliado pelo “elevado número da adesão nas escolas, na Segurança Social, na Saúde, na Cultura, na Justiça, nas Finanças, nos Tribunais, por todo o lado”.

Daí que tenha defendido que o Governo terá de “marcar rapidamente” uma reunião com os sindicatos e "tentar negociar”, porque “tem espaço para o fazer, tem dinheiro para negociar salários e os sindicatos não abdicam disso”.

“Depois de nove anos, esta greve tem de ter uma resposta e tem de ter uma resposta de quem tem o direito de a dar que é o Governo”, salientou a dirigente sindical, lembrando que os trabalhadores querem que os salários sejam negociados.

Arménio Carlos referiu também que, se o Governo não reabrir as negociações e melhorar os salários dos trabalhadores da Administração Pública, a luta vai continuar.

“Se isso for feito, temos caminho para andar, senão for feito temos caminho para confrontar. E se formos pela segunda via já está agendado o dia do confronto seguinte, que vai ser a 15 de novembro, com uma grande manifestação em Lisboa, com a participação quer de trabalhadores da Administração Pública, quer de trabalhadores do setor privado porque também no setor privado não é admissível o que se está a passar", nomeadamente em termos de contratação coletiva, lembrou o líder da central sindical.

Arménio Carlos referiu ainda que, durante o período da 'troika', “foi devido à intervenção dos profissionais da Administração Pública que muitos dos serviços conseguiram funcionar e agora também era justo que, ao fim de 10 anos, o Governo tivesse uma palavra de atenção e de reconhecimento por esse trabalho”, advertindo que “isso não está a acontecer”.

E prosseguiu: “Aquela proposta de 550 milhões de euros para salários para um universo de 650 mil trabalhadores é uma proposta inadmissível. Digamos que eu diria quase que é uma provocação”.

“Não nos venham dizer que não há dinheiro para aumentar os salários, porque nós sabemos que neste momento continua a haver muito dinheiro quer para o setor financeiro, quer para as chamadas despesas más - as parcerias público privadas, que nos vão levar, de acordo com a proposta de Orçamento de Estado apresentada, 1.700 milhões de euros no próximo ano. Já para não falar dos juros da dívida”, sublinhou o sindicalista.

Para o sindicalista, quando se faz um orçamento, “este não pode ser feito numa base tradicional como a que nós tínhamos anteriormente, que era cortes nos salários, cortes nos direitos, e cortes nas pensões”.

“Se a economia está a crescer, se há desenvolvimento económico, esse desenvolvimento é para os trabalhadores em geral e, em particular, para os da Administração Pública que também deram o seu contributo. Daí que está na altura de o Estado, o Governo, assumir as suas responsabilidades enquanto entidade patronal para com estes trabalhadores”, frisou o líder sindical.

Os trabalhadores da administração pública estão hoje em greve por aumentos salariais, o que poderá levar ao encerramento de escolas e serviços municipais, ao cancelamento de atos médicos e comprometer o funcionamento de tribunais e finanças.

Inicialmente a greve foi convocada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (ligada à CGTP) para pressionar o Governo a incluir no Orçamento do Estado para 2019 (OE2019) a verba necessária para aumentar os trabalhadores da função pública, cujos salários estão congelados desde 2009.

Contudo, após a última ronda negocial no Ministério das Finanças, em meados de outubro, a Federação de Sindicatos da Administração Pública e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, ambos filiados na UGT, anunciaram que também iriam emitir pré-avisos de greve para o mesmo dia, tendo em conta a falta de propostas do Governo, liderado pelo socialista António Costa.