De acordo com a organização de ajuda humanitária, três dos mortos foram atingidos por tiros, enquanto milhares de pessoas aguardavam a chegada de cerca de quinze camiões de farinha e outros alimentos, provenientes do Kuwait, nos arredores da cidade de Gaza, palco de incidentes anteriores nas últimas semanas.

Vídeos filmados pela agência AFP mostram camiões a avançar no escuro, passando por lixo a arder, e ouvem-se também tiros, gritos e buzinas de veículos pesados de mercadorias a tentar avançar.

Segundo testemunhos relatados à agência de notícias francesa, membros dos “comités de proteção popular”, responsáveis pela fiscalização da distribuição de ajuda, dispararam para o ar, ferindo várias pessoas, enquanto os camiões atropelaram outras.

Ao mesmo tempo, segundo os relatos, tanques israelitas posicionados a algumas centenas de metros de distância disparavam.

Contactado pela AFP, o exército israelita não respondeu.

A maioria dos 2,4 milhões de habitantes está ameaçada pela fome, alertam as agências da ONU há semanas, e a ajuda humanitária que entra no território palestiniano é estritamente controlada por Israel.

Na quinta-feira, o Tribunal Internacional de Justiça, o mais alto órgão judicial da ONU, ordenou que Israel fornecesse “ajuda humanitária urgente” a Gaza, face a “uma fome emergente”.

Quase seis meses após o início da guerra, desencadeada por um ataque sem precedentes do movimento islamista palestiniano Hamas contra Israel, o exército israelita realizou novos ataques à Faixa de Gaza, matando pelo menos 82 pessoas nas últimas 24 horas, aumentando assim para 32.705 o número de palestinianos mortos desde o início do conflito, segundo dados das autoridades controladas pelo Hamas.

Embora as negociações para chegar a uma trégua pareçam estar num impasse, com ambos os lados a acusarem-se mutuamente de estarem a causar o bloqueio, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, “aprovou uma próxima ronda de negociações, nos próximos dias, em Doha e no Cairo”, anunciou o seu gabinete, na sexta-feira.

Nos últimos meses, ocorreram diversas rondas de negociação via mediadores internacionais — Egito, Qatar, Estados Unidos -, mas sem resultado.

Desde o início da guerra, apenas uma trégua de uma semana foi estabelecida no final de novembro, permitindo a libertação de cerca de uma centena de reféns raptados durante o ataque de 07 de outubro, em troca de prisioneiros palestinianos encarcerados por Israel.

Apesar de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU exigir um cessar-fogo na região, os combates não diminuíram de intensidade.