“A decisão de não permitir comboios da UNRWA para o norte de Gaza, onde temos uma situação dramática de fome, é totalmente inaceitável”, disse o líder da Nações Unidas numa conferência de imprensa em Amã, ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi.

Para Guterres, aqueles que tomaram a decisão “devem assumir a responsabilidade face à História pelas consequências em relação à dramática situação da população no norte de Gaza”.

É “absolutamente essencial haver um fornecimento massivo de ajuda humanitária”, defendeu António Guterres, sublinhando que isso implica até abrir mais pontos de entrada.

“Isto significa uma concentração de esforços de todas as entidades, sem obstáculos e sem limitações do lado israelita, para poder resgatar a população do norte de Gaza que está em risco iminente de fome. Muitas crianças já estão hoje a morrer de fome”, afirmou.

Guterres está hoje na Jordânia, a propósito do Ramadão, o mês sagrado muçulmano, que também o levou, este fim de semana, ao Egito, onde visitou a passagem de Rafah, único ponto não controlado por Israel até Gaza e por onde passa a maioria da ajuda humanitária.

No domingo, o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que Israel informou a ONU de que não aprovará mais comboios humanitários com destino ao norte da Faixa de Gaza.Israel não esconde as suas intenções de expulsar a UNRWA da Faixa de Gaza e acusa a organização de ter ligações diretas ao grupo islamita Hamas.

Na sexta-feira, o Governo israelita afirmou que quase 17% dos trabalhadores da UNRWA em Gaza são “membros de organizações terroristas” e pelo menos 15 tiveram “envolvimento direto” no massacre de 7 de outubro do Hamas em território israelita.

“A UNRWA não pode desempenhar nenhum papel na Faixa de Gaza, quebrou toda a sua neutralidade”, e deve encontrar-se um “substituto”, afirmou o porta-voz da embaixada de Israel em Madrid, Tal Itzhakov.

Numa videoconferência com jornalistas, o porta-voz mencionou uma atualização do relatório de Israel sobre esta matéria, com informação e documentos obtidos pelos serviços secretos israelitas em Gaza sobre “a infraestrutura terrorista”.

Itzhakov, que nomeou um desses “terroristas” identificados, indicou que há “2.135 membros do Hamas e da Jihad Islâmica” a trabalhar na UNRWA na Faixa de Gaza. Mais precisamente, 485 são “membros do braço militar das organizações terroristas” e 1.650 do movimento Hamas.

No dia seguinte, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, acusou a ONU de ser uma organização anti-israelita e antissemita, que incentiva o terror.

Numa publicação na rede social X, Israel Katz acusou António Guterres de culpar Israel pela situação humanitária em Gaza.

O secretário-geral da ONU afirmou, no Egito, que o “mundo está farto” do “pesadelo sem fim” em Gaza, após mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas no território palestiniano.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas em solo israelita em 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades de Israel.

Desde então, Israel tem retaliado com uma ofensiva em Gaza que já provocou mais de 32.000 mortos, de acordo com o balanço mais recente do Ministério da Saúde palestiniano, controlado pelo Hamas.

O grupo islamita palestiniano, que controla Gaza desde 2007, é classificado como uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.