A conclusão faz parte de uma análise feita por várias organizações, hoje divulgada, segundo a qual as emissões combinadas de 100 companhias petrolíferas e de gás, sem alterações drásticas e urgentes, vão representar quase 80% do orçamento global de carbono.
O orçamento de carbono do setor, para impedir um aumento das temperaturas além de 1,5°C em relação à época pré-industrial, será “queimado” até 2037, diz-se também na análise, que os responsáveis dizem ser o estudo mais abrangente do desempenho da indústria do petróleo e do gás.
O trabalho foi desenvolvido pela World Benchmarking Aliance (WBA), uma organização que avalia e classifica o desempenho das empresas mais influentes do mundo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), em conjunto com o CDP, que gere o sistema mundial de divulgação ambiental para empresas, cidades, estados e regiões, e com o a ADEME, Agência Francesa para a Transição Ecológica.
De acordo com as conclusões do trabalho, a maioria das 100 empresas analisadas diz que precisa de reduzir as emissões, mas nenhuma se comprometeu a parar a exploração.
Das 100 empresas, as europeias têm um desempenho relativamente melhor do que as suas congéneres, sendo todas europeias as 10 com melhor desempenho em termos climáticos e investimento em tecnologias com baixo teor de carbono.
No quadro das 10 com melhor desempenho climático surge em primeiro lugar a Neste, uma empresa petrolífera finlandesa, seguida da francesa Engie e da espanhola Naturgy Energy. A portuguesa Galp Energia surge na lista também, em nono lugar. No fim da lista das 100 empresas, como pior, está a Petroecuador (do Equador).
As organizações responsáveis notam que foi a primeira vez que a indústria foi avaliada em relação a um cenário de 1,5°C - o mais ambicioso plano de redução de emissões proposto pelo Acordo de Paris - e que foi o primeiro estudo para avaliar as empresas petrolíferas e de gás utilizando o cenário da Agência Internacional de Energia (AIE) de emissões líquidas zero até 2050.
Do estudo conclui-se também que as maiores empresas petrolíferas estatais aumentaram a produção de petróleo ou gás entre 2014 e 2019, e que das 100 apenas 13 têm planos de transição de baixo carbono que se prolongam por pelo menos 20 anos no futuro.
Os responsáveis pelo trabalho hoje divulgado resumem a situação afirmando que o setor em análise é marcado pela falta de ambição e de ação.
“Metas e estratégias opacas, pouco ambiciosas ou inexistentes dos maiores contribuintes para as alterações climáticas mostram que o setor do petróleo e gás não está a aceitar a sua quota-parte de responsabilidade pelas emissões globais”, acusam.
O protocolo internacional de gases com efeito de estufa mais usado (GHG Protocol) estabelece três categorias de emissões: âmbito 1, as emissões diretas, âmbito 2, as indiretas derivadas da energia elétrica que a entidade compra, e âmbito 3, todas outras indiretas, não controladas mas relacionadas com as atividades da organização em causa.
As emissões de indiretas (âmbito 3) de algumas empresas “são equivalentes às emissões de países inteiros”, diz-se na análise, dando-se um exemplo: as emissões de âmbito 3 da norte-americana ExxonMobil em 2019 foram superiores às do Canadá.
E outro exemplo também: No mesmo ano as emissões de âmbito 1, 2 e 3 da Saudi Aramco (Arábia Saudita) eram superiores às emissões combinadas da Alemanha, França, Itália e Espanha.
E neste setor, dizem os responsáveis pela análise há também uma falta global de relatórios climáticos globais e abrangentes, com a maioria das empresas a partilharem apenas dados parciais (âmbitos 1 e 2). E notam que um terço das empresas divulga informações sobre emissões de âmbito 3, sendo uma delas a portuguesa Galp.
Na área da investigação e desenvolvimento há também uma grande diferença entre o que as empresas dizem e fazem. Mais de metade das 100 empresas relatou despesas em novas tecnologias mas só 17 foram precisas. E “preocupantemente” só 12 publicaram informações sobre planos de investimento de capital com baixo teor de carbono até 2024.
“Cada empresa, decisor político e investidor está consciente da necessidade urgente de dar prioridade à descarbonização e transformação energética, mas a sensibilização não conduziu a ações suficientes", diz, citada no documento Vicky Sins, dirigente da WBA, avisando que as empresas petrolíferas e de gás ou se transformam ou tornam-se redundantes, porque “já não podem alegar ignorância sobre a urgência da mudança”.
E Nicolette Bartlett, diretora executiva do CDP: "O progresso da indústria do petróleo e do gás a nível mundial é terrivelmente desadequado se quisermos limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2050”.
E ainda citado no documento Baptiste Perrissin Fabert, da ADEME, deixa também um aviso: as empresas de petróleo e gás têm menos de uma década para passar radicalmente do lado do problema para o lado da solução.
Comentários