João Cotrim Figueiredo falava aos jornalistas no final de uma audiência com o primeiro-ministro e membros do Governo, que decorreu na residência oficial de São Bento, em Lisboa. Em cima da mesa estava a proposta de programa de estabilização económica e social decorrente da pandemia de covid-19, bem como o orçamento suplementar.
Questionado se saiu da reunião mais aliviado ou mais preocupado em relação ao futuro, o líder da IL respondeu que "nem uma coisa nem outra".
"O que ouvimos dá-nos um sinal positivo e um sinal preocupante. O sinal positivo é que me parece que o Governo está suficientemente aberto a ouvir alternativas, para não se fechar em nenhuma reserva demasiado rígida ou ideológica, ou outra", disse.
Apontando que "há abertura" da parte do Governo para ouvir as opiniões dos partidos quanto ao caminho a adotar, Cotrim Figueiredo confidenciou que esta foi "uma conversa franca".
"Mas, ao mesmo tempo, parece-nos que aquilo que já criticámos durante as primeiras semanas desta epidemia, que era uma certa falta de sentido de urgência e de determinação, continua lá", criticou.
Para o deputado único da IL, "parece haver ainda demasiada expectativa em relação ao próximo dado, à próxima decisão que vossa vir, por exemplo, da Europa, ao próximo impacto de uma decisão na popularidade".
"Acho que ainda há demasiado cálculo e demasiada falta de urgência para aquilo que o próprio Governo reconhece que seria ideal, que é colocar aquilo que será um ponto de partida para uma nova fase de crescimento, quer em Portugal, quer na Europa e em outros países, em que temos de chegar a esse momento na linha da frente desses países", insistiu.
Neste ponto, João Cotrim Figueiredo advogou que "vai haver concorrência pelas oportunidades" que se gerarem, que vão "estar disponíveis para todos" e "vão-se esgotar depois daqueles que lá primeiro chegarem as aproveitarem".
Por isso, entende que "um maior sentido de urgência faria falta neste momento", porque esta crise, provocada pela pandemia de covid-19, "vai ser a mais profunda de que há memória".
Apesar de ressalvar que esta reunião não se tratou de uma negociação, na sua ótica, esta pode ser também uma oportunidade para algumas reformas mais profundas em sistemas como a saúde e a justiça, destacando que a Iniciativa Liberal mantém a disponibilidade para ajudar o Governo, apesar de manter o sentido crítico.
Entre as suas propostas, a IL defende que é “fundamental nesta fase simplificar e descomplicar a vida económica”, medida que deverá abranger também os licenciamentos e a aprovação de investimentos privados, bem como uma flexibilização dos contratos de trabalho para diminuir os contactos entre trabalhadores.
O partido pede também uma recuperação das listas de espera para consultas e cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS) através de um alargamento dos sistemas existentes ao setor privado e social, bem como “uma nova estrutura” do SNS, considerando que este serviço reagiu bem à covid-19 “porque deixou de reagir às outras necessidades de cuidados de saúde da população”.
A nível económico, a IL rejeita voltar ao ponto em que o país se encontrava antes desta crise e na justiça pede uma reforma que agilize os processos de insolvência e reforce os direitos dos contribuintes face às autoridades.
João Cotrim Figueiredo disse também aos jornalistas que, "das empresas que em abril recorreram ao 'lay-off', cerca de 115 mil, há 40 mil que não renovaram o pedido", ressalvando que as razões para tal não são conhecidas, mas indicando que "há a convicção que há um retorno significativo dessas empresas, dessas 40 mil de diferença, à atividade".
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