“Os eventos que investiguei foram presenciados por líderes do Governo. Muitos desses eventos não deveriam ter acontecido”, lê-se nas conclusões.
O relatório de 37 páginas, que inclui fotografias, afirma também que “alguns dos funcionários mais jovens acreditaram que a participação em alguns destes eventos foi permitida, dada a presença de dirigentes superiores”.
“A equipa de liderança superior no centro, tanto política quanto oficial, deve assumir a responsabilidade por essa cultura”, vinca.
O primeiro-ministro, Boris Johnson, deverá fazer uma declaração no Parlamento sobre o relatório às 12:30 locais (mesma hora em Lisboa), depois do debate semanal com os deputados, seguida por uma conferência de imprensa às 15:30 e por um encontro com deputados do Partido Conservador ao final da tarde.
O chamado ‘partygate’ ensombra o primeiro-ministro britânico há meses, devido às alegações de que Boris Johnson e assessores participaram em “festas” ilegais enquanto milhões de pessoas no país cumpriam as restrições rígidas para tentar evitar a propagação da covid-19 em 2020 e 2021.
A publicação do documento completo, quase seis meses após ter sido pedido, foi atrasada devido à investigação policial ao escândalo pela polícia britânica, que resultou em 126 multas a 83 pessoas.
O primeiro-ministro, a esposa, Carrie, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, foram punidos por terem participado numa festa de aniversário surpresa a Boris Johnson em junho de 2020, fazendo do líder conservador o primeiro chefe de Governo britânico culpado por desrespeitar a lei em funções.
O inquérito interno do executivo foi entregue à funcionária pública superior Sue Gray, com responsabilidades relacionadas com a ética, por ter reputação de ser “íntegra e honrada” e de ter conduzido “investigações anteriores com rigor e vigor”, justificaram vários ministros.
O relatório abrangeu 16 “ajuntamentos” de assessores e membros do executivo em 2020 e 2021 em edifícios governamentais, a maioria em Downing Street, local da residência oficial e gabinete do primeiro-ministro.
Uma versão preliminar, publicada em janeiro, já tinha identificado “falhas graves (…) no coração do Governo” e comportamentos “difíceis de justificar”, apontando a “falhas de liderança e discernimento”, incluindo no gabinete do primeiro-ministro.
O chamado “partygate” causou uma onda de indignação junto de muitas pessoas que, devido às restrições em vigor, foram impossibilitadas de acompanhar familiares e próximos que morreram ou que estavam doentes ou sozinhos.
Johnson pediu desculpa, mas resistiu aos pedidos de demissão da oposição, alegando que não o fez conscientemente.
Para forçar a demissão é preciso que 54 deputados apresentem “cartas de desconfiança” no primeiro-ministro para desencadear uma moção de censura, sendo depois necessários 181 votos a favor para originar eleições internas no Partido.
Nos últimos dias a pressão voltou a aumentar devido à publicação de fotografias pela estação ITV News com Boris Johnson a beber álcool junto a uma mesa com várias garrafas na despedida de um assessor em novembro de 2020, quando o Reino Unido estava sob confinamento.
Quando foi questionado anteriormente na Câmara dos Comuns sobre se tinha existido uma festa em Downing Street no dia 13 de novembro de 2020, Johnson respondeu: “Não, as orientações foram seguidas e as regras foram respeitadas o tempo inteiro”.
Na altura, Inglaterra estava sob restrições que só deixavam as pessoas sair para frequentar comprar comida, ir ao médico ou à escola, trabalhar ou fazer exercício, limitando encontros a membros da mesma família, e as lojas não essenciais estavam fechadas.
A BBC também noticiou esta semana relatos de funcionários sobre eventos com dezenas de pessoas em salas cheias e o consumo regular de bebidas alcoólicas.
Boris Johnson tem beneficiado em parte de as atenções se terem desviado para a invasão da Ucrânia pela Rússia e para a crise do aumento do custo de vida, mas as sondagens mostram uma queda na popularidade e as eleições locais de maio resultaram na perda de centenas de vereadores.
Pela frente, Johnson tem ainda um inquérito parlamentar para determinar se mentiu aos deputados quando negou qualquer irregularidade, ofensa que o código de conduta dos ministros determina que resulte em demissão.
O Partido Trabalhista e os Liberais Democratas consideram “não haver dúvida” de que Johnson mentiu quando disse que desconhecia quaisquer ajuntamentos ilegais, e reiteraram esta semana o pedido de demissão.
Boris assume responsabilidade por “festas” mas recusa demissão
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou hoje estar “envergonhado” e ter aprendido "a lição", mas recusou demitir-se na sequência de um inquérito a “festas” que violaram as restrições da pandemia covid-19 na residência oficial, em Downing Street.
"Assumo total responsabilidade por tudo o que aconteceu”, afirmou, numa declaração no Parlamento, renovando o pedido de desculpas.
Porém, insistiu que “participou brevemente” nas festas “para agradecer” a funcionários pelo serviço e que não sabia que elas se tinham alongado “mais do que o necessário” e que "entraram em conflito com as regras” dos confinamentos.
“Isto não é para mitigar [as circunstâncias]. Eu não tinha conhecimento desses procedimentos subsequentes porque simplesmente não estava lá. E fiquei tão surpreso e desapontado à medida que as revelações surgiram. E, francamente, fiquei chocado com alguns dos comportamentos”, garantiu.
“Estou envergonhado e aprendi a lição”, vincou, mas argumentou que o país deve "seguir em frente".
(Artigo atualizado às 13:30)
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