De acordo com o comunicado emitido hoje pelo Pentágono, "mais de uma dúzia de mísseis" atingiram duas bases iraquianas utilizadas pelo exército dos Estados Unidos da América e o Departamento de Defesa já anunciou que está a fazer uma "avaliação preliminar dos danos" causados pelo ataque e a planear "a resposta".
A televisão estatal do Irão anunciou que dezenas de mísseis iranianos foram lançados contra a base aérea iraquiana de Ain Assad, que alberga tropas norte-americanas.
A estação descreveu esta ação, com mísseis terra-terra e desencadeada na madrugada de quarta-feira, como uma operação de vingança na sequência do ataque de que resultou a morte do general iraniano Qassem Soleimani.
Segundo o The New York Times, a força aérea iraniana lançou os ataques à 1h20 da madrugada desta quarta-feira [hora local], a mesma hora em que o general Soleimani foi morto pelas tropas americanas.
As forças militares dos Estados Unidos não comentaram no imediato esta informação. No entanto, um oficial do exército norte-americano confirmou à ABC que vários mísseis balísticos foram disparados do Irão tendo como alvo instalações americanas no Iraque, de Erbil, no norte do país, à base áerea de Al-Asad.
No canal dos Guardas da Revolução, foi feita a ameaça de um ataque “dentro dos EUA”, no caso de uma eventual retaliação norte-americana aos ataques realizados na noite de hoje. No mesmo canal, são mencionados como possíveis alvos o Dubai, os Emirados Árabes Unidos, Haifa ou Israel em caso de bombardeamento americano.
Antes, em comunicado, os Guardas da Revolução tinham ameaçado atacar “Israel” e “aliados dos EUA”.
"Está tudo bem", diz Trump
Trump recorreu ao Twitter para reagir.
“Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem”, escreve Trump na rede social Twitter às 21:45 locais (02:45 em Lisboa).
Na mesma mensagem, o Presidente norte-americano garante que os EUA têm “as mais poderosas e mais bem equipadas forças armadas em todo o mundo, de longe”, prometendo uma declaração para hoje.
Operação “Mártir Soleimani”
A base aérea de Ain Assad está situada na zona ocidental da província de Anbar.
Foi a primeira base utilizada pelos forças militares norte-americanas após a invasão do Iraque em 2003 destinada a derrubar Saddam Hussein.
As forças dos EUA permaneceram estacionadas no local quando foi desencadeado o combate no Iraque e na Síria contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI).
A televisão estatal iraniana referiu que esta operação militar foi designada “Mártir Soleimani”. Indicou ainda que a divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, que controla o programa de mísseis iranianos, desencadeou o ataque.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, afirmou que o seu país “não pretende um agravamento da guerra, mas que se vai defender de qualquer agressão”.
Através da rede social Twitter, o ministro classificou o ataque com mísseis balísticos a bases iraquianas com militares norte-americanos como sendo “medidas proporcionais de autodefesa”.
Tensão no Médio Oriente
O general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na passada sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado por Donald Trump.
No mesmo ataque morreu também o 'número dois' da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.
O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e apenas terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.
Na sequência do ataque, os Guardas da Revolução iraniana avisaram os Estados Unidos da América e aliados regionais contra qualquer retaliação, através de uma declaração divulgada pela agência oficial iraniana IRNA.
“Advertimos todos os aliados dos americanos, que disponibilizaram as suas bases a este exército terrorista, que será atacado qualquer território que constitua um ponto de partida de atos agressivos contra o Irão”, referiram os Guardas da Revolução. Israel também foi ameaçado.
O Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas — Rússia, França, Reino Unido, China e EUA — mais a Alemanha, e que visava restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares. Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.
No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.
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[Notícia atualizada às 07h00 de 8 de janeiro]
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