No início da semana, Israel anunciou ter cancelado a sua participação na Web Summit em Lisboa, na sequência das declarações do seu cofundador, o irlandês Paddy Cosgrave, a propósito do conflito entre Israel e o Hamas.

O que aconteceu exatamente?

Na rede social X (antigo Twitter), Cosgrave escreveu, a 13 de outubro, uma publicação que resultou numa onda de críticas entre várias responsáveis de empresas tecnológicas israelitas.

"Estou impressionado com a retórica e as ações de tantos líderes e governos ocidentais, com a exceção particular do Governo da Irlanda, que pela primeira vez estão a fazer a coisa certa. Os crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando cometidos por aliados, e devem ser denunciados pelo que são", destacou Paddy Cosgrave.

Em reação, o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, defendeu que, “mesmo nestes tempos difíceis”, Cosgrave “é incapaz de deixar de lado as suas opiniões políticas extremistas e denunciar as atividades terroristas do Hamas contra pessoas inocentes”.

“Devemos ter tolerância zero em relação aos atos terroristas e de terror”, sublinhou ainda.

Há mais desistências?

Depois da tomada de posição de Israel, Dor Shapira referiu no X que “dezenas de empresas já cancelaram a sua participação nesta conferência e encorajamos outras a fazê-lo”.

Também muitos utilizadores da rede social reagiram às publicações do cofundador da Web Summit com críticas, partilhado a ‘hashtag’ #cancelwebsummit.

E a verdade é que as reações continuam a suceder-se e há grandes empresas a deixarem a conferência.

Ontem foi anunciado que as gigantes tecnológicas Google e Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, desistiram da Web Summit. As empresas confirmaram à agência Bloomberg que não iriam participar no evento, juntando-se a outras companhias como a Intel e a Siemens e de apelos por parte de investidores israelitas à conferência. Já no dia de hoje, a Amazon juntou-se a este número crescente.

O que tem dito Cosgrave?

Após seu comentário original, Cosgrave publicou outras mensagens nas quais afirmava que as ações do grupo islâmico Hamas são “ultrajantes e repugnantes” e “um ato de mal monstruoso” e que, embora Israel tenha o direito de se defender, não tem o direito de “violar o direito internacional”.

"Estamos devastados por ver as terríveis mortes e o nível de vítimas civis inocentes em Israel e Gaza. Condenamos os ataques do Hamas e expressamos as nossas mais profundas condolências a todos aqueles que perderam os seus entes queridos. Aguardamos com expectativa uma reconciliação pacífica”, apontou Cosgrave.

Além disso, Paddy Cosgrave pediu desculpas, a 17 de outubro, sobre as suas declarações relativas ao conflito entre Israel e o Hamas, lamentando não ter transmitido "compaixão", e disse esperar que a paz seja alcançada.

"Para reiterar o que disse na semana passada: condeno sem reservas o mau, repugnante e monstruoso ataque do Hamas em 7 de outubro" e "apelo também à libertação incondicional de todos os reféns. Como pai, simpatizo profundamente com as famílias das vítimas deste ato terrível e lamento por todas as vidas inocentes perdidas nesta e noutras guerras", referiu Paddy Cosgrave, no blogue da Web Summit.

"Apoio inequivocamente o direito de Israel existir e de se defender, apoio inequivocamente uma solução de dois Estados", mas "compreendo que o que disse, o momento em que disse e a forma como foi apresentado causou profunda dor a muitos", prosseguiu.

"Para qualquer pessoa que ficou magoada com minhas palavras, peço profundamente desculpas. O que é necessário neste momento é compaixão, e eu não transmiti isso. O meu objetivo é e sempre foi lutar pela paz" e, "em última análise, espero de todo o coração que isso possa ser alcançado", apontou ainda.

Mas o pedido de desculpas não foi suficiente e Paddy Cosgrave anunciou hoje ter-se retirado do cargo de CEO da Web Summit, através de um comunicado citado pela Bloomberg.

"Infelizmente, os meus comentários pessoais tornaram-se uma distração do evento", afirmou Paddy Cosgrave. "Peço novamente sinceras desculpas por qualquer mágoa que tenha causado", acrescentou.

Com tudo isto, como fica a Web Summit?

Para já, mantém-se tudo como anunciado: a próxima edição será realizada entre os dias 13 e 16 de novembro.

E sabe-se ainda que a Web Summit vai nomear um novo CEO (presidente executivo) o mais depressa possível e o evento decorrerá de acordo com o previsto, disseram os organizadores num comunicado divulgado hoje.

De recordar que a Web Summit foi fundada em 2009 e decorreu em Dublin até 2016, altura em que se mudou para Lisboa, onde no ano passado acolheu mais de 71 mil pessoas de 160 países.