“Numa época em que a arte portuguesa tem vindo a alcançar o reconhecimento internacional há muito devido, é justo lembrar o muito que devemos a quem incansavelmente produziu um discurso crítico e histórico sobre as artes em Portugal. E ninguém o faz com mais intensidade, sabedoria e distinção do que José-Augusto França”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República recorda ainda o percurso do “historiador, crítico de arte, sociólogo, professor, diretor e animador de revistas, ficcionista e memorialista”, desde a formação em Paris, com Pierre Francastel, com os doutoramentos em História e em Letras, sem esquecer a sua contribuição “fundamental na afirmação do surrealismo português, organizando exposições, promovendo jovens artistas, escrevendo na imprensa”.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda ainda obras de referência de José-Augusto França, como as monografias sobre Almada e Amadeo, a cidade de Lisboa, o romantismo em Portugal, “além de volumes de referência sobre a arte portuguesa dos últimos dois séculos”, a par de funções desempenhadas como presidente da Academia de Belas Artes, da Associação Internacional dos Críticos de Arte, do Centro Cultural Português em Paris, como diretor durante um quarto de século da revista Colóquio/Artes, da Fundação Calouste Gulbenkian, e como responsável pelo curso de História de Arte da Universidade Nova de Lisboa.

“Não houve tarefa de investigação, divulgação, estudo e pedagogia que não tivesse exercido ao longo de sete décadas de atividade”, recorda Marcelo Rebelo de Sousa.

O historiador, sociólogo e crítico de arte morreu hoje, aos 98 anos, na casa de saúde de Jarzé, perto da cidade francesa de Angers, disse à Lusa a pintora Emília Nadal, sua amiga e da família.

Considerado uma referência na área das artes visuais e da cultura em Portugal, José-Augusto França encontrava-se internado há vários anos nessa unidade de cuidados continuados, após uma operação na sequência da qual sofreu diversos acidentes vasculares cerebrais, e morreu hoje às 13:00 locais (12:00 em Lisboa), segundo a mesma fonte, devendo ser cremado ainda esta semana em França.

Da sua extensa obra, destacam-se os estudos sobre a arte em Portugal nos séculos XIX e XX, as monografias sobre Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros, além de outros volumes de ensaios de interpretação e reflexão histórica, sociológica e estética sobre questões da arte contemporânea.

Enquanto teórico e divulgador, participou entre 1947 e 1949 nas atividades do Grupo Surrealista de Lisboa, de que fizeram parte, entre outros, Mário Cesariny de Vasconcelos e Alexandre O’Neill, e foi, na década seguinte, um defensor da arte abstrata.

Foi condecorado diversas vezes, como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1991), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2006) e as medalhas de Honra da Cidade de Lisboa (1992) e de Mérito Cultural (2012).

Diplomado pela École d’Hautes Études de Paris e doutorado pela Sorbonne, foi professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa desde 1974, onde criou os primeiros mestrados de História da Arte do país, e jubilou-se em 1992, tendo recebido das mãos do então Presidente Mário Soares a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, no final da última aula que deu.

Também lecionou na Sociedade Nacional de Belas Artes, presidiu à Academia Nacional de Belas-Artes, foi diretor do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, membro do Comité Internacional de História da Arte e presidente de honra da Associação Internacional dos Críticos de Arte.

Nascido em Tomar a 16 de novembro de 1922, doou o seu espólio ao museu da cidade.

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