Nos arredores do tribunal federal de Alexandria, no estado da Virgínia (leste), Manning disse à imprensa que a sua tentativa de evitar a convocação para comparecer perante o grande júri havia sido descartada, mas que iria continuar a lutar para alcançar o seu objetivo.

"A petição de invalidação foi negada. Continuamos a ter motivos para contestar, por isso estaremos aqui de novo amanhã", declarou Manning. A ex-analista militar foi convocada na semana passada, mas a razão para a sua convocação não foi indicada.

Os grandes júris, que são usados apenas nos Estados Unidos e na Libéria, são grupos de cidadãos que operam separadamente dos tribunais e que investigam se devem ou não apresentar acusações criminais. A lei habilita estes grupos a obrigarem testemunhas e suspeitos a depor.

Manning opõe-se aos grandes júris, que, segundo ela, são pressionados pelos promotores a obter depoimentos extraídos injustamente e com pouca transparência. "É um processo secreto em que as provas que não seriam usadas ou normalmente permitidas podem ser analisadas", disse à imprensa nesta terça-feira.

Manning, ex-analista de Inteligência do Exército, foi condenada em 2013 a 35 anos de prisão por entregar ao WikiLeaks mais de 700.000 documentos secretos relacionados às guerras no Iraque e no Afeganistão.

As revelações de Manning, que é transgénero e foi anteriormente conhecida como Bradley Manning, expuseram delitos encobertos e possíveis crimes cometidos por tropas e aliados dos Estados Unidos. O então presidente Barack Obama comutou a sua sentença, o que levou à sua libertação em maio de 2017.

O tribunal de Alexandria não deu nenhuma informação sobre o caso que está a ser investigado pelo grande júri, segundo Manning. Contudo, os órgãos de informação norte-americanos, como o The New York Times e o Politico, acreditam que os promotores federais estão a investigar o WikiLeaks e o seu fundador, Julian Assange, pela publicação através dessa plataforma de documentos secretos da campanha democrata para a eleição presidencial americana de 2016.

Assange, que vive desde 2012 refugiado na embaixada do Equador em Londres para evitar ser preso, assegura que os Estados Unidos querem extraditá-lo para julgá-lo pelas atividades do WikiLeaks, que, segundo ele, são similares às de qualquer jornalista.

Hanna Jonasson, advogada de Assange, disse acreditar que o caso a ser tratado nos Estados Unidos está focado nas revelações de 2010 que envolvem Manning.

Num comunicado, o WikiLeaks considerou que a decisão contra Manning representa um "dia obscuro para o Jornalismo". "Forçar uma fonte a testemunhar contra um jornalista por publicar informações precisas é uma situação extrema vista apenas nos Estados mais autoritários do mundo", indicou a plataforma.