Em quatro anos, os juízes ligados à Lava jato pronunciaram cerca de 190 condenações contra empresários e políticos de quase todo o espetro parlamentar. A tensão aumenta à medida que se aproximam as presidenciais de outubro, com a primeira volta marcada para o dia 7 desse mês, em que Lula da Silva surge como favorito.

A investigação do Lava jato remonta a 2014, com inúmeros avanços e recuos. Aqui fica uma cronologia dos momentos mais marcantes.

2018

7 de abril: No Sindicato, Lula quebra o silêncio e confirma que se vai entregar às autoridades. Mas deixa um aviso: "A morte de um combatente não para a revolução".

6 de abril: Depois de ver o habeas corpus apresentado pela sua defesa recusado, Lula falha o prazo do mandato de detenção ordenado por Sérgio Moro. Ex-presidente mantém-se no edifício da cidade brasileira de São Bernardo do Campo do Sindicato dos Metalúrgicos. Usando a prerrogativa da Constituição que estabelece que qualquer cidadão pode pedir habeas corpus a favor de outro que esteja a ser alvo de coação, advogados de vários estados do país entregaram posteriormente habeas corpus a favor do ex-presidente no STF (Supremo Tribunal Federal), tendo desta forma evitar a prisão imediata.

5 de abril: O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeita — de madrugada — o habeas corpus de Lula para recorrer em liberdade da sua condenação em segunda instância. O ex-presidente foi condenado a doze anos e um mês de prisão por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras.

O juiz Sérgio Moro decreta a prisão de Lula, dando 24 horas ao ex-presidente para se apresentar na sede da Polícia Federal em Curitiba. Lula considerou "absurdo" o mandado de prisão de que é alvo, e acusou o juiz Sérgio Moro "de sonhar" com a sua detenção.

Entretanto, já a 6 de abril, a defesa de Lula entrou com um pedido de habeas corpus [garantia que permite aguardar julgamento em liberdade] no Superior Tribunal de Justiça para tentar evitar a prisão imediata.

24 de janeiro: O Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4) confirma a sentença de Sérgio Moro e eleva para condenação de Lula para doze anos e um mês de reclusão. A 26 de março, o TRF4 rejeita os últimos embargos da defesa. A condenação em segunda instância inclui Lula na Lei da Ficha Limpa (lei que torna inelegível por oito anos um candidato que for condenado por decisão de um órgão judicial composto por mais de um juiz), dificultando a sua candidatura à presidência do Brasil.

2017

12 de julho: Sérgio Moro condena Lula a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

26 de junho: O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, denuncia o presidente Michel Temer (MDB) por corrupção passiva.

Temer, um ano de governação ensombrado por escândalos de corrupção
Temer, um ano de governação ensombrado por escândalos de corrupção
Ver artigo

17 de maio: A Rede Globo divulga uma gravação do diretor da JBS, Joesley Batista, na qual se ouve Temer dar um suposto aval ao pagamento de subornos.

11 de abril: O Supremo autoriza a abertura de investigações contra oito ministros de Temer. O procedimento é ampliado a 29 senadores, 40 deputados e três governadores.

14 de março: Janot solicita a abertura de 83 investigações contra políticos com foro privilegiado (direito adquirido por algumas autoridades públicas e que garante que possam ter um julgamento especial e particular quando são alvos de processos penais), com base em delações premiadas (um benefício legal concedido a um réu numa ação penal desde que este aceite colaborar na investigação criminal) de ex-executivos da Odebrecht.

30 de janeiro: Eike Batista, que foi o homem mais rico do Brasil, é detido.

2016

4 de março: A polícia faz buscas na casa de Lula em São Paulo e leva-o a depor para investigar se cometeu crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na 24ª fase da operação Lava Jato.

23 de fevereiro: O principal responsável pela publicidade das campanhas presidenciais de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, João Santana, e sua mulher são detidos para esclarecer se os milionários pagamentos recebidos do exterior provinham de uma construtora e de um operador financeiro ligados ao esquema montado na Petrobras.

3 de fevereiro: O ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada é condenado a doze anos e dois meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

2015

25 de novembro: O senador do Partido dos Trabalhadores (o partido de Lula da Silva) Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, é detido por obstruir as investigações. Amaral saiu da prisão quase três meses depois e a revista IstoÉ publicou a 3 de março de 2016 supostas declarações deste à Justiça, em que acusa Dilma Rousseff de interferir nas investigações e Lula de estar a par do esquema.

O banqueiro André Esteves, presidente do BTG, o maior banco de investimentos da América Latina, também foi detido em 25 de novembro, acusado de querer comprar o silêncio de um ex-diretor da Petrobras, acusado de corrupção. André Esteves foi libertado em 18 de dezembro.

21 de setembro: O tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (de Lula) José Vaccari Neto, acusado de 44 delitos de lavagem de dinheiro e detido desde abril, é condenado a 15 anos e 4 meses de prisão. Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, é condenado a mais de 20 anos de prisão na mesma data.

20 de agosto: O procurador-geral da República denuncia que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, recebeu pelo menos cinco milhões de dólares em subornos no esquema. Na quinta-feira, 3 de março, a Suprema Corte acolheu as denúncias contra Cunha e este, terceiro na linha de sucessão da Presidência do Brasil, tornou-se o primeiro político com foro privilegiado a enfrentar uma ação penal.

No mesmo dia, também é acusado o ex-presidente Fernando Collor por suposto envolvimento no esquema. A polícia apreende carros de luxo de uma das suas residências.

3 de agosto: José Dirceu, ex-chefe de gabinete de Lula, já condenado a sete anos de prisão por um esquema de subornos contra legisladores no primeiro governo do ex-presidente, é detido e a procuradoria acusa-o de ser um dos líderes do esquema de corrupção na Petrobras.

20 de julho: A justiça condena a mais de 15 anos de prisão os principais diretores da construtora Camargo Correa, Dalton Avancini e Eduardo Leite. Ambos assinaram um acordo de colaboração com a procuradoria para cumprir a sentença em prisão domiciliaria.

19 de junho: São detidos os empresários Marcelo Odebrecht e Otavio Marques de Azevedo, presidentes das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez, duas das maiores empreiteiras do país, pela alegada participação no esquema de corrupção e pagamento de subornos.

26 de maio: O ex-chefe da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró é condenado a cinco anos de prisão por lavagem de dinheiro.

18 de abril: As primeiras condenações da operação são contra Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012, e Alberto Youssef. Ambos optam pela delação premiada com o objetivo de reduzir as suas penas.

6 de março: O Supremo Tribunal Federal autoriza investigações a 12 senadores e 22 deputados por corrupção na Petrobras, entre eles os presidentes das duas câmaras, que integram a coligação de governo.

2014

17 de março: A polícia lança a primeira fase da operação Lava Jato, com 17 detenções.

(Cronologia atualizada às 17h22 de 7/04/2018)