A fábrica da Volkswagen não só é importante para a região de Setúbal, pela oferta de emprego qualificado e pelas oportunidades de negócio que oferece a muitas empresas, mas também para o país, dado que as exportações da Autoeuropa representam, segundo dados de 2015, 1% do Produto Interno Bruto (PIB), valor significativo para a economia nacional, embora distante do máximo de 2,2% do PIB de 1998.
Os 25 anos da fábrica vão ser hoje assinalados numa sessão evocativa, que contará com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa.
A importância da Autoeuropa para a região de Setúbal mede-se também pela atratividade sobre outras empresas estrangeiras como a Schenellecke, Bentler, SAS Automotive Systems, Vanpro, Action e Wheels, e as portuguesas Palmetal e Inapal Plásticos, entre muitos outros fornecedores e prestadores de serviços. A empresa alemã Webasto foi uma das poucas empresas que cessaram a atividade no parque industrial, devido ao fim da produção do Volkswagen Eos, em junho do ano passado, uma vez que produzia apenas o tejadilho para aquele veículo com capota retrátil.
Mas, se a Autoeuropa é importante para grandes empresas e para as exportações portuguesas, não é menos importante para trabalhadores e para o pequeno comércio da região, ou para a Câmara Municipal de Palmela.
O presidente do município, Álvaro Amaro (CDU), reconhece o impacto que a Autoeuropa teve na transformação de Palmela, que há 25 anos era apenas um concelho rural e que hoje tem o maior `cluster´ do setor automóvel em Portugal.
“Desde logo, a Autoeuropa teve um impacto, do ponto de vista do desenvolvimento económico, muito importante, não só pela criação de emprego, mas também pelo valor que acrescenta, em termos de derrama. Mas, para nós, o essencial foi o contributo para a transfiguração do concelho, que era eminentemente um concelho rural”, disse Álvaro Amaro à agência Lusa.
“Com a vinda da Autoeuropa, constituímos uma zona industrial, logística, perto de acessibilidades e de nós e de eixos fundamentais, para continuar a promover a atratividade de novas empresas. E o `cluster´ automóvel ficou muito mais completo, muito melhor articulado, com um conjunto de empresas que são fornecedoras e fazem, também, formação profissional. Sem dúvida que recebemos mais gente, houve novas oportunidades, houve, sobretudo, um aspeto muito importante: houve qualificação do emprego”, acrescentou o autarca.
A Autoeuropa também traz vantagens para o pequeno comércio de toda a península, bem como para restaurantes e cafés perto da unidade industrial, onde não é preciso esperar muito para ver entrar pequenos grupos de trabalhadores da fábrica de automóveis, como reconhece Vanessa Simões, proprietária do Café Simões.
“Quando nos instalámos já havia Autoeuropa, mas temos noção de que vêm cá alguns grupos, que recorrem a este café por haver a Autoeuropa. No fundo, [a fábrica de automóveis da Autoeuropa] tem alguma importância, porque dá alguma afluência em certos horários”, disse.
Uma opinião corroborada pelo proletário do restaurante Tasquinha Alentejana, David Bizarra, que só abriu o estabelecimento devido à presença da Autoeuropa e não imagina como poderia manter a porta aberta sem a fábrica de automóveis ali ao lado.
“Isso está fora de questão. Nós, como a margem sul e Palmela, dependemos muito da Autoeuropa, porque movimenta muita gente, a nível nacional e internacional – há muitos camionistas que vêm trazer mercadorias e vêm almoçar ao nosso restaurante. Contamos com a Autoeuropa, porque sem a Autoeuropa – como esta zona não está urbanizada – ficávamos sem clientes, sem isso tudo”, disse.
“Esta casa [vivenda] era de habitação, mas transformámo-la [em restaurante] há 17 anos. Em virtude de haver muitas pessoas a passarem por aqui e a não terem um local onde comer, nós fizemos uma opção, arriscámos, e está tudo a correr bem”, afirmou David Bizarra.
O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, António Chora, também não tem dúvidas de que a fábrica tem sido muito importante para o desenvolvimento económico e para os trabalhadores da região ao longo dos últimos 25 anos.
“Sem dúvida. Tem sido [muito importante] esta fábrica e tudo aquilo que ela trouxe com a sua implementação. Trabalham para a Autoeuropa, direta ou indiretamente, cerca de 8.000 pessoas, de norte a sul do país”, disse António Chora, que só consegue imaginar um “futuro muito triste” sem a fábrica de Palmela.
“Seria um futuro muito triste, seria uma região muito triste, porque o impacto seria muito maior do que foi o impacto pelo encerramento de outras grandes empresas, como a Siderurgia Nacional, a Lisnave, a Quimigal. O impacto de uma situação dessas [fim da Autoeuropa] vai de Bragança, pelo menos, até Vendas Novas. Abrange todo o país e não apenas a região de Setúbal”, justificou.
Mas a verdade é que, apesar desse receio sempre presente, tudo índica que a Autoeuropa poderá ter um “futuro risonho” nos próximos anos.
“Pelos dados que temos, a Autoeuropa vai admitir mais 1.100 trabalhadores, a juntar aos 3.600 que já tem neste momento. Isso irá implicar que no parque industrial também haja muito mais admissões, porque é muito provável que em 2018 se trabalhe a três turnos na Autoeuropa, o que obriga a que também as empresas do parque industrial trabalhem na mesma modalidade [de três turnos]”, disse.
“E o futuro, tudo o indica, será risonho. Vai depender, como sempre, no caso desta empresa, de se saber se o carro é bem aceite ou não. Os carros até hoje lançados foram bem aceites, mas a verdade é que o tempo de vida dos carros é cada vez mais curto. Este novo carro vai ser lançado para o ano, mas o tempo de vida já não será como o da Volkswagen Sharan, já não vai estar em produção durante dez ou quinze anos”, concluiu o coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa.
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