O último revés surgiu esta segunda-feira, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou formalmente Michel Temer por corrupção, deixando o presidente à beira do abismo.

Agora abre-se um processo no Supremo Tribunal Federal que poderá afastá-lo do cargo embora, antes, deva ser validado por dois terços da Câmara dos Deputados, onde Temer, hoje com 76 anos, começou a sua escalada ao poder há três décadas.

O seu governo está na corda bamba desde que o jornal O Globo revelou, no dia 17 de maio, uma gravação comprometedora de uma conversa com o empresário Joesley Batista em que o presidente parece dar seu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

"Não renunciarei. Repito, não renunciarei", garantiu, depois de o Supremo Tribunal o decidir investigar.

E não renunciou. Mas para muitos a gravação do dono da JBS foi o início do fim de um mandato que nunca se livrou dos escândalos de corrupção, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Milhares de brasileiros têm ido às ruas para reivindicar a sua saída enquanto cerca de vinte pedidos de impeachment se somam no Congresso. O PSDB, crucial para que Temer consiga governar, já pondera o fim da aliança.

Temer conseguiu ganhar tempo e sobreviveu ao julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que decidiu por uma apertada maioria absolver coligação Dilma-Temer que venceu a eleição presidencial de 2014. Entretanto, ainda há muitas frentes abertas.

Nos bastidores 

Discreto organizador nos bastidores, o presidente soube abandonar o barco de Dilma Rousseff a tempo, reclamando de ser um "vice-presidente decorativo". Ele queria mais.

Dilma acusa-o de ter orquestrado um "golpe parlamentar" juntamente com Eduardo Cunha, entretanto detido e condenado a 15 anos de prisão por corrupção. Mas Temer segue de pé e impermeável às críticas daqueles que questionam a sua legitimidade e a dureza dos seus ajustes.

Pragmático e com o apoio dos mercados, sempre pensou que o sucesso das suas polémicas reformas permitiria que passasse à posteridade como o presidente que tirou o Brasil da pior recessão da sua história, deixando em segundo plano os seus baixos índices de popularidade.

Mas a melhoria dos dados económicos, incluindo o primeiro crescimento do PIB após oito trimestres de contração, não foi suficiente para melhorar a sua imagem. A sua popularidade encontra-se nos 7%, sendo o mais impopular dos últimos 28 anos.

"Anónima intimidade"

Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em 1940 e cresceu no interior de São Paulo. É o mais novo de oito irmãos de uma família de imigrantes libaneses católicos, que chegaram ao Brasil 15 anos antes.

Na capital económica do país tornou-se um advogado constitucionalista de prestígio e começou a sua carreira política, que o levou a ser três vezes presidente da Câmara dos Deputados durante os seus seis mandatos como legislador do PMDB, partido que presidiu durante 15 anos.

A sua chegada à presidência também dirigiu os holofotes para a sua terceira esposa, Marcela, mãe do seu quinto filho e 43 anos mais nova.

Amante das letras, quando ainda era vice-presidente reuniu os seus poemas no livro "Anónima intimidade" (2013). Mas como se percebe do poema "Assintonia", na época o político não avistava problemas: Não há tragédia/ À vista/ Nem lembranças/ De tragédias passadas/ Nem dores no presente/ Lamentavelmente/ Tudo anda bem/ Tudo anda bem/ Por isso/ Andam mal/ Os meus escritos.

Eram outros tempos.

AFP/Rosa Sulleiro