Num camião e vestida com uma t-shirt branca, Machado estava acompanhada por vários líderes da oposição, mas não pelo candidato Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória na eleição presidencial de 28 de julho.

Machado e González Urrutia, ameaçados e escondidos, haviam sido vistos em público pela última vez na terça-feira, num comício em Caracas.

Os manifestantes começaram a reunir-se na capital cerca de duas horas antes, numa atmosfera de calma e sem grande mobilização das forças de segurança.

"Maduro é ilegítimo. Não somos terroristas, estamos a lutar pelo nosso país, pela liberdade. Peço a Maduro que ouça a voz dos nossos irmãos, de todos aqueles que morreram", disse Jezzy Ramos, uma chef de cozinha de 36 anos, casada e mãe de uma filha, na manifestação.

Maduro foi ratificado na sexta-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral como presidente reeleito e acusa os líderes da oposição de tentar dar um golpe de Estado.

"Estou a defender a democracia e o voto, porque elegemos um presidente, isso é óbvio, as atas estão publicadas na internet (...). O governo não reconhece que perdeu. É um autogolpe", disse Sonell Molina, 55 anos, mãe de dois filhos, que vivem no Peru.

Com onze civis mortos desde o início dos protestos espontâneos na segunda-feira em rejeição ao anúncio da reeleição de Maduro e mais de mil presos, os líderes da oposição limitaram as suas aparições públicas nos últimos dias.

Na sexta-feira, o líder da oposição e jornalista Roland Carreño, que já tinha sido preso entre 2020 e 2023 por acusações de "terrorismo", foi detido novamente, conforme denunciado por seu partido Voluntad Popular, de Juan Guaidó e Leopoldo López.

De acordo com a procuradoria, um militar também foi morto durante os protestos.

"Gesto incomum"

O Conselho Nacional Eleitoral ratificou a vitória de Maduro com 52% dos votos, à frente dos 43% atribuídos a González Urrutia, a quem o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou apoio.

Maduro acusou os EUA de intervencionismo. "Ele está desesperado, um gesto incomum na diplomacia dos EUA e sai para dizer que têm os resultados (...). O que têm é a armadilha que tentaram impor", disse, referindo-se a Blinken.

"Houve vários apelos e gritos de fraude vindos desse setor da direita radical, criminosa e violenta da Venezuela", disse Maduro numa conferência de imprensa com correspondentes estrangeiros. "Não querem reconhecer os mecanismos nacionais e soberanos da Venezuela, só querem manter o show da farsa.

O chavismo marchará à tarde pelo centro de Caracas, no que Maduro já anunciou como "a mãe" das manifestações.

Uma caravana de motociclistas que apoiam Maduro saiu pelas ruas do centro.

A oposição diz ter provas de fraude e apresenta um site com cópias de mais de 80% dos registros de votação em sua posse. O chavismo rejeita essa afirmação e alega que os documentos são falsos.

"Temos que continuar a avançar para afirmar a verdade. Temos as provas e o mundo já as reconhece", declarou Machado em X.

De acordo com a oposição, González Urrutia recebeu 67% dos votos.

Reconhecimento e diligências

Na sexta-feira, em poucas horas, cinco países latino-americanos - Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá - reconheceram a vitória de González Urrutia. O Peru havia sido o primeiro na terça-feira.

Maduro, por sua vez, agradeceu aos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Colômbia, Gustavo Petro; e do México, Andrés Manuel López Obrador, pelos seus esforços para chegar a um acordo político na Venezuela.

"O presidente Lula, o presidente Petro e o presidente López Obrador estão a trabalhar juntos para garantir que a Venezuela seja respeitada, para que os Estados Unidos não façam o que estão a fazer", disse o líder socialista.

Entre os países que reconhecem Maduro estão Nicarágua, Rússia e Irão.