Desde a manhã, a afluência ao Palácio Praia, no largo do Rato, foi aumentando, atingindo o seu pico pelas 17:00, com uma fila a contornar o edifício até à esquina com a rua das Amoreiras e um tempo médio de espera de cerca de meia hora para assinar um dos sete livros de condolências entretanto disponibilizados.

"É dia também de pensarmos no grande legado que nos deixa. O que é hoje um Portugal moderno, livre, democrático, europeu, com grande ambição de justiça social e progresso. A grande homenagem que podemos fazer é continuar a carregar essas bandeiras", afirmou o autarca lisboeta, adiantando que haverá tempo para prestar uma homenagem na toponímia da cidade ao fundador do PS, embora sem adiantar se se tratará de uma avenida, rua ou praça, entre outras hipóteses.

O ex-edil de Lisboa, ex-ministro e atual deputado João Soares, um dos filhos de Mário Soares, voltou ao prédio cor-de-rosa pelas 19:30, depois de também ter estado presente pela manhã, quando terminou o movimento de pessoas.

O antigo presidente do CDS-PP Manuel Monteiro (1992-96), que sucedeu a Adriano Moreira e antecedeu Paulo Portas à frente dos democratas-cristãos, foi uma das figuras que homenagearam Soares.

"Sendo um europeísta convicto, bateu-se pela diferença de opiniões, quando propus que houvesse um referendo em Portugal sobre o Tratado da União Europeia. Ele defendeu, contra tudo e todos, a possibilidade dessa consulta", lembrou o também fundador do Partido da Nova Democracia.

Incapaz de controlar as lágrimas que jorraram pela cara esteve o atleta e antigo recordista mundial dos 10.000 metros Fernando Mamede, confessando que perdera "das pessoas mais importantes", só comparável ao seu treinador no Sporting, Moniz Pereira.

"Sempre estiveram nos meus maus e bons momentos, disseram sempre 'presente'. Guardo-os no meu coração para sempre", afirmou, recordando que Moniz Pereira era vizinho no mesmo edifício da família Soares e ambos brincaram enquanto jovens no quintal do Campo Grande, simulando provas de atletismo.

O fundador do BE Francisco Louçã não quis falar aos jornalistas, justificando tratar-se de "um dia para o Partido" Socialista.

A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, a eurodeputada Maria João Rodrigues, o vice-presidente da autarquia lisboeta, Duarte Cordeiro, o vice-presidente da bancada parlamentar do PS Pedro Delgado Alves, o deputado Eurico Brilhante Dias, o militante e ex-dirigente nacional Álvaro Beleza, foram outras pessoas que se dirigiram ao Rato.

A ex-deputada e agora vice-presidente da Fundação INATEL (Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres), atriz e realizadora de cinema, falou de uma "dívida coletiva e em termos pessoais pela liberdade". Os atores Vitor de Sousa e Joel Branco, assim como o escritor Nuno Júdice foram outros rostos da cultura presentes.

Os cidadãos, militantes e simpatizantes do PS - famílias inclusive -, formaram um cordão contínuo, atravessando o 'hall' de entrada do edifício cor-de-rosa até ao salão nobre, no piso superior, onde foram aumentando os livros de condolências, enquanto no piso térreo também havia dois outros para pessoas que tenham maior dificuldade de locomoção.

Na terça-feira, o Palácio Praia receberá quem quiser homenagear Soares entre as 10:00 e as 21:30. Um ecrã gigante com um vídeo que resume a vida política do estadista e três cartazes gigantes decoram o edifício, com fotos do fundador do PS, ladeado pela mulher, Maria Barroso, e, noutra, pelo antigo camarada de partido Salgado Zenha.

Mário Soares morreu no sábado Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde esteve internado 26 dias, desde 13 de dezembro. O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.

O corpo do antigo Presidente da República vai estar em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos a partir das 13:00 de segunda-feira, e o funeral de Estado realiza-se a partir das 15:30 de terça-feira, rumo ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa.