A última ronda negocial realizou-se na passada terça-feira e estendeu-se por mais de oito horas sem ser possível chegar a um acordo, com o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) a reivindicarem um aumento salarial transversal de 30%.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou na sexta-feira, à margem de uma iniciativa em Lisboa, que não quer ser “excessivamente otimista”, mas deseja que a reunião negocial alcance um “resultado positivo”.

“O Governo tem feito um diálogo, que é um diálogo de boa-fé, com uma evolução assinalável das propostas e nós continuamos a trabalhar para uma aproximação de posições”, defendeu.

Quanto à reivindicação do aumento salarial de 30%, Manuel Pizarro afirmou que foram apresentadas várias propostas de flexibilidade que “ultrapassam muito esse valor”.

“Isso não é apenas o que está em causa. Nós temos vindo a aproximar-nos e ninguém pode esperar que uma negociação signifique intransigência das duas partes. As duas partes têm que se aproximar para que seja possível chegar a um acordo”, referiu.

Para o SIM, foram feitos avanços nas negociações relativamente à redução do horário normal para as 35 horas semanais, de modo faseado e progressivo no tempo desta legislatura, e ao retorno às 12 horas de trabalho em serviço de urgência, mas defende que tem que “ficar assegurado que tal não é condicionado por fatores não dependentes dos médicos e ficar escrito preto no branco”.

“Persiste o desacordo relativamente à recuperação das perdas remuneratórias sofridas pelos médicos, relativamente às quais o SIM não abdica que sejam refletidas no vencimento base e transversais para todos os médicos de todas as áreas de exercício profissional, incluindo os médicos internos”, refere o SIM em comunicado.

O Sindicato Independente dos Médicos afirma que mantém “a sua postura de querer chegar a um entendimento que permita pacificar o SNS e a bem dos doentes, mas que não poderá ser a qualquer custo e eternamente à custa dos médicos”.

Também a Fnam diz estar disponível para assinar “um acordo que dignifique os médicos e o SNS”, com reposição do horário de trabalho de 35 horas, das 12 horas de serviço de urgência e atualização do salário base que reponha o poder de compra para os níveis anteriores à troika para todos os médicos.

“Depois de 18 meses de reuniões infrutíferas com o Ministério da Saúde, tempo em que se percebeu que a maioria da população está ao lado dos médicos e do SNS, o ministro da Saúde admitiu a razoabilidade das propostas entregues pelos médicos, mas, por agora, apenas em palavras”, refere a Fnam em comunicado.

Para a federação, “a reforma do SNS, e a sua dignificação, só é possível com médicos motivados e respeitados, e devidamente valorizados, dada a sua responsabilidade”.

“Mais do que nunca, cabe agora a Manuel Pizarro assumir que é necessário resolver a maior crise em que o Governo colocou o SNS, nomeadamente com a falta de médicos para assegurar escalas da maioria dos serviços de urgência do país”, salienta.

Mais de 30 hospitais do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos, na sequência de mais de 2.500 médicos terem entregado escusas ao trabalho extraordinário, além das 150 horas anuais obrigatórias.

Esta crise já levou o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, a admitir que este mês poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.