Um dos flancos do incêndio de Monchique atingiu hoje o concelho vizinho de Portimão, na localidade do Rasmalho, que foi evacuada por precaução, com vários moradores a serem deslocados para o Porto de Lagos e o para o pavilhão Portimão Arena, embora outros tenham pedido para ficarem.

“As autoridades convidaram-nos a sair, mas nós explicámos que íamos defender o nosso património e felizmente eles acederam ao nosso pedido, até porque temos os campos em redor da nossa casa todos lavrados e, por isso, sentimo-nos seguros", disse à Lusa Sérgio Timóteo, queixando-se apenas do "fumo que paira no ar”.

O morador habita numa das últimas casas do sítio, no final da reta do Rasmalho em direção a Monchique, junto à Estrada Nacional 266, um local onde o fogo esteve muito próximo antes de ser controlado pelas forças de combate.

"Já estamos habituados aos fogos, acontecem praticamente de dois em dois anos, sendo que os maiores foram em 2003, 2004 e agora este”, acrescentou o popular, que viu as chamas chegarem próximo de sua casa.

Sérgio Timóteo relatou que viu o fogo "a cerca de um quilómetro de distância", mas decidiu que iria "lutar até ao último momento", até porque já tinha o carro virado para sul, e, se fosse preciso, partia "para um local seguro" porque a estrada estava desimpedida e em direção a Portimão não havia fogo.

“A comunidade aqui do Rasmalho é muito unida e se fosse necessário juntávamo-nos todos para combater o fogo. Temos familiares um pouco por toda a serra, daqui até Monchique e sabemos que as autoridades têm retirado as pessoas à força, isto é um trabalho de uma vida, as pessoas já estão nervosas e se os agentes não fizerem as coisas com calma, só piora a situação”, desabafou.

Já uma outra moradora com quem a Lusa falou, que preferiu não ser identificada, esclareceu que no Rasmalho os agentes da autoridade "não foram brutos", acedendo ao seu pedido para se manterem em casa.

A mulher recordou ainda que no seu tempo de infância havia uma maior inspeção naquelas zonas, pelos guarda-rios, que eram "figuras respeitadas na comunidade".

"As pessoas limpavam os terrenos quando eram avisadas da sua visita. Este ano houve amigos nossos que limparam os terrenos, alguns gastaram mais de três mil euros e não valeu de nada, ardeu tudo. Agora é esperar que isto acabe depressa para termos todos paz”, concluiu.

O fogo que deflagrou em Monchique na sexta-feira já obrigou à retirada de pessoas de casas também no concelho de Silves, tendo a situação mais preocupante sido registada na zona de Falacho, segundo a Câmara.

Silves é um dos três concelhos do distrito de Faro afetados pelo fogo rural que lavra pelo quinto dia, desde sexta-feira, além de Monchique e Portimão.

No fim de semana as chamas chegaram a Odemira, no distrito de Beja, mas já foram apagadas no concelho alentejano.

Este fogo, que fez 29 feridos ligeiros e um grave, queimou, segundo dados da União Europeia, 17.400 hectares em cinco dias.