O vice-presidente do PSD David Justino falava aos jornalistas na sede do partido, em Lisboa, numa conferência de imprensa sobre o ponto da situação da greve dos motoristas, um dossiê em que considera que o Governo "e as forças que o apoiam" estão "num beco sem saída e sem condições para recuos".

"Neste contexto, o PSD aconselha o Governo a apostar todos os seus recursos no restabelecimento das negociações, mesmo que para tal seja necessário suspender a requisição civil e desde que as posições irredutíveis dos sindicatos e dos representantes do patronato possam ser superadas, nomeadamente pela suspensão da greve - tal como já foi recentemente sugerido pelo presidente do PSD - e pela negociação sem condições prévias", sugeriu.

Na perspetiva de David Justino, "não há outra solução para resolver a atual crise" que não passe pela negociação.

"Ou há negociação e as partes têm a coragem de abdicar dos seus instrumentos de influência para se sentarem à mesa e tentarem encontrar uma solução ou então não há nenhuma solução", avisou.

A conferência de imprensa do vice-presidente do PSD foi também anunciada, através do Twitter, pelo líder do partido, Rui Rio, - que está de férias segundo David Justino explicou -, mensagem na qual criticou também a gestão política desta greve por parte do Governo, que "em lugar de ajudar a resolver o conflito, optou por o dramatizar, na esperança de, através dele, conseguir dividendos políticos".

Para David Justino, quando se banaliza a utilização das requisição civil é "natural que isso leve precisamente ao desrespeito e acima de tudo à desobediência civil, que são os primeiros sinais que começam a aparecer".

"É difícil chegar a um entendimento entre as três partes sem que as três partes possam abdicar dessas três coisas. O Governo tem que abdicar, eventualmente, da requisição civil - ou pelo menos suspendê-la -, os sindicatos vão ter que abdicar da greve e a Antram vai ter que abdicar da posição de força que tomou de não entrar em negociação debaixo de uma situação de greve", detalhou.

Para David Justino, cabe ao Governo dar o primeiro passo, criticando o executivo de "enquanto fingia querer mediar o conflito", ter dado "todos os sinais de que estava disposto a entrar no conflito".

"E foi isso mesmo que fez, entrando em força no tal circo mediático, começando por dramatizar as consequências do cenário de greve e inundando os órgãos de comunicação social de visitas, declarações, entrevistas (chegou-se ao extremo de termos três ministros em simultâneo em três canais de televisão!), anúncio de medidas, mobilização de forças armadas e de segurança", lembrou.

Criou-se assim, na visão de David Justino, "o clima emocional favorável a uma intervenção musculada e espetacular - no original sentido da palavra - por parte do Governo que culminou com a esperada requisição civil dos trabalhadores em greve".

Com a "demonstração de força com um aparato coercivo injustificado e a tentativa de humilhação dos trabalhadores e dirigentes sindicais" o executivo, segundo o PSD, mostrou "irresponsabilidade", "falta de isenção", "excessos no exercício da autoridade de Estado, aos quais não será alheia a atual conjuntura político-eleitoral" e "tratamento diferenciado perante diferentes corpos profissionais".

David Justino deixou a garantia de que "o PSD não irá contribuir para a polémica instalada, nem criar dificuldades aos esforços que venham a ser desenvolvidos no sentido de encontrar uma solução para este conflito", assegurando que não "fará qualquer aproveitamento partidário de uma situação que afeta milhares de portugueses".

A greve que começou na segunda-feira, por tempo indeterminado, foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), com o objetivo de reivindicar junto da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.

A requisição civil dos motoristas em greve, decretada pelo Governo na segunda-feira, é complementada por duas portarias, uma das quais efetiva a requisição civil nas áreas e serviços nos quais o Governo identificou o incumprimento de serviços mínimos: o abastecimento da zona sul do país a partir de Sines, o abastecimento da Rede de Emergência de Postos de Abastecimento (REPA), o abastecimento dos aeroportos e o abastecimento das unidades autónomas de gás natural.