Na Bielorrússia, as manifestações decorrem desde domingo, quando a Comissão Eleitoral do país anunciou a vitória do Presidente, Alexander Lukashenko, que terá nas eleições desse dia conquistado o seu sexto mandato com 80% dos votos.
A principal candidata da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, cujas ações de campanha atraíram multidões de eleitores frustrados com o Governo autoritário de 26 anos de Lukashenko, terá obtido apenas 10% dos votos.
Hoje, em Lisboa, quase uma centena de pessoas apoiaram os que disseram que as eleições foram fraudulentas e que as manifestações pacíficas que decorrem estão a ser alvo de violência extrema por parte de milícias armadas, não identificadas.
“O que está a acontecer é mais do que conflitos entre manifestantes e polícia, são milícias, não identificadas, a usar a força contra pessoas”, há mortos, há pessoas a serem torturadas, disse à agência Lusa Ekaterina Drozhzha, ativista e jornalista bielorrussa que vive há quatro anos em Portugal.
Acrescentou que nos últimos três dias foram detidas sete mil pessoas, “sem nenhuma razão”, com os milicianos a entrarem em casas, nos transportes e até em ambulâncias, numa clara violação de direitos humanos.
Na manifestação de solidariedade, o maior cartaz levado para o centro de Lisboa dizia precisamente “Fim da violação dos direitos humanos”, a par de outros com frases como “Bielorrússia é parte da sociedade europeia”, “26 anos de ditadura sangrenta” ou “UE está com a Bielorrússia”.
A ativista, ao dirigir-se aos manifestantes, alguns ucranianos a expressar solidariedade, começou por falar também das violações de direitos humanos, das mortes e da violência contra crianças, pedindo um minuto de silêncio por essas vítimas.
Garantiu ainda que a vitória de Alexander Lukashenko foi fabricada e que hoje na Bielorrússia as pessoas estão “desesperadas” e são atacadas apenas por falar, por parte não da polícia, mas de “criminosos treinados para matar”.
“Não temos muito tempo, se a sociedade internacional não agir agora a população da Bielorrússia passará uma das piores e mais sangrentas fases da sua vida”, avisou, a par de outros alertas do género deixados também por outros manifestantes.
Ekaterina Drozhzha disse, e repetiu à Lusa, que a UE não deve reconhecer Alexander Lukashenko como Presidente e lamentou que haja na Europa muita “informação incorreta”, com jornais a noticiar que Lukashenko ganhou as eleições de domingo.
Sendo que não acredita numa revolução que derrube o Presidente, sendo que considera possível uma recontagem de votos, a jovem ativista e jornalista defende acima de tudo um apoio da comunidade internacional, especialmente da UE.
“A UE tem de olhar para nós, estão a discutir sanções, mas não precisamos só disso, precisamos de ajuda”, destacou.
Ekaterina Drozhzha disse ainda ter “muitas esperanças” na reunião extraordinária dos chefes da diplomacia da UE marcada para sexta-feira, para discutir questões como a situação na Bielorrússia.
A UE “tem de reconhecer que os bielorrussos querem pertencer à sociedade democrática europeia”, deve perceber “o que realmente pode fazer para salvar vidas”, afirmou.
“Percebo que neste mundo há muitos conflitos e injustiças, há solidariedade com povos, como agora em relação a Beirute, mas isto não é só uma luta contra um homem e um regime, é uma luta pela dignidade humana, e todos nós temos de lutar pela nossa dignidade, respeitar a vida”, acrescentou.
As eleições presidenciais de domingo na Bielorrússia deram a vitória (mais de 80%) a Lukashenko, há 26 anos no poder, mas foram consideradas fraudulentas pela oposição, cuja principal líder, Svetlana Tikhanovskaia, foi obrigada a refugiar-se na vizinha Lituânia.
Desde então não têm parado as manifestações e as cenas de violência. As autoridades bielorrussas confirmam a morte de dois manifestantes.
Comentários