Hoje é dia da música. A música tem por estes tempos sofrido — como todas as artes — os impactes da sua fragilidade. Soube-se hoje que trezentas e catorze entidades foram apoiadas pela Linha de Apoio de Emergência às Artes, tendo o valor inicialmente previsto, de 1,7 milhões de euros, sido reforçado com mais 22 mil euros, disse fonte do gabinete da ministra da Cultura.

Os resultados da Linha de Apoio de Emergência às Artes, um dos apoios de emergência anunciados pelo ministério da Cultura para ajudar o setor no contexto da pandemia, foram anunciados em 13 de maio. Nesse dia, ficou a saber-se que, das 1.025 candidaturas, 636 foram consideradas elegíveis e, destas, apenas 311 iriam receber apoio, mas, em agosto, ainda faltava pagar a 50 entidades. Hoje, fonte oficial do ministério disse à Lusa que foram apoiadas 314 entidades e que a verba atribuída ascende a 1,722 milhões de euros.

Já no que respeita à linha de apoio social, dotada de 34,3 milhões de euros e destinada a trabalhadores da cultura, os pagamentos começaram a ser feitos há duas semanas, assegurou à Lusa a mesma fonte, escusando-se para já a revelar quantas candidaturas foram apresentadas e adiantando que o número será revelado num balanço final.

Questionada sobre quando está previsto ser feito esse balanço, a mesma fonte não precisou uma data, referindo que os pagamentos deverão estar concluídos dentro de aproximadamente duas semanas (quando deverá ser paga a segunda tranche), mas que não será possível fazer logo um balanço na altura. O mesmo se aplica às entidades que se candidataram às outras duas linha abrangidas por este apoio social extraordinário: uma orçamentada em três milhões de euros e destinada a entidades artísticas, e outra para a adaptação dos espaços às medidas de contenção da propagação da covid-19, no valor de 750 mil euros.

A linha de apoio social, criada no âmbito do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), previa o pagamento da prestação social aos profissionais, em julho e setembro, de um valor total de 1316,43 euros, que corresponde à prestação atribuída aos trabalhadores independentes (3x 438,81 euros).

Estas são as dores da cultura, que devagar retoma. Por exemplo, em Paços Brandão, Santa Maria da Feira, a música regressa devagar, com um festival “ajustado às restrições de profilaxia e mobilidade internacional impostas pela pandemia de covid-19”. Neste caso, são nove espetáculos a decorrer de 03 de outubro a 21 de novembro, sete dos quais de entrada livre, onde haverá música sinfónica, jazz, world music, grupos corais, orquestras e até dança.

Depois de um primeiro concerto em Janeiro pela Orquestra Filarmónica Portuguesa com o Coro de Berlim, antes de o surto epidemiológico de covid-19 ter inviabilizado viagens internacionais e obrigado a confinamento profilático generalizado, o 43.º FIMUV – Festival Internacional de Música de Paços de Brandão arranca em definitivo no próximo dia 3 de outubro.

“Não fosse o uso obrigatório de máscara e o maior distanciamento entre lugares na plateia, ninguém diria que este cartaz, tão rico e diversificado, corresponde a um ano complicadíssimo e sem paralelo em termos de programação e gestão cultural”, realça Augusto Trindade, diretor artístico. “É claro que ainda nos falta subir ao palco e concretizar os espetáculos, mas já nos sentimos particularmente orgulhosos nesta fase, por termos evitado o cancelamento de um evento internacional que, implicando a coordenação de centenas de artistas, vai culminar, como sempre até aqui, num produto sério e de qualidade insuspeita”.

Mas há mais por onde retomar. Por todo o lado há uma série de propostas, pagas e gratuitas, que merecem atenção.

Ainda aqui no Norte, o evento “Sons no Património” realiza-se entre hoje e segunda-feira, em várias cidades da Área Metropolitana, com uma programação totalmente nacional, privilegiando a realização de concertos ao ar livre, todos gratuitos. Francisco Sales, Miguel Xavier, Ricardo Ribeiro, Miguel Amaral & Yuri Reis, Afonso Cabral, Daniel Pereira Cristo, Manuel Linhares, Helder Moutinho e Marco Rodrigues são os artistas convidados para este evento em rede, que conta ainda com a participação dos projetos musicais Retimbar, Lisboa String Trio com Cristina Branco, Birds are Indie, First Breath After Coma e Rua da Lua. A generalidade dos concertos decorre ao ar livre e ao vivo, à exceção das atuações em Gondomar e Vale de Cambra, municípios que optaram apenas pela transmissão via digital.

Já o programa “From Mozart to Beethoven”, da Orquestra Filarmónica Portuguesa, assinala os 250 anos do nascimento de Beethoven, com concertos no Coliseu do Porto, hoje, e no Theatro Circo, em Braga, no sábado, ambos com o clarinetista Carlos Ferreira, como solista. Sob a direção do maestro Osvaldo Ferreira, serão interpretados o Concerto para Clarinete, de Mozart, e a 3.ª Sinfonia, "Heróica”, de Beethoven.

E, no sábado, o Salão Nobre do parlamento da Madeira será palco de um concerto pelo Quinteto de Sopros Atlântida, da Orquestra Clássica, anunciou hoje a organização. A informação divulgada pela Associação Notas e Sinfonias Atlânticas (ANSA) realça que vão ser interpretadas obras Claude Debussy e Félix Mendelssohn, num “programa diversificado, brilhante e de valor artístico e estético de criação maior destes compositores europeus”. Pedro Camacho (flauta), Louise Whipham (oboé), José Barros (clarinete), Manuel Balbino (fagote) e Rúben Silva (trompa) são os intérpretes.

Em Lisboa, no Teatro Nacional de São Carlos, com direção musical de João Paulo Santos, o concerto conta com a participação de Nuno Margarido Lopes (piano), Ana Ferro (meio-soprano) e João Rodrigues (tenor).

No âmbito da digressão de apresentação e pré-venda do novo disco que decorre até 21 de novembro. “Uma palavra começada por N” é o novo trabalho de Noiserv, músico que se estreou em 2005 e que edita agora o seu quarto álbum, totalmente em português. No Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco.

Ainda no Porto, estreia amanhã "Eurovisão da Canção Filosófica”, no Teatro Municipal. Trata-se de um espetáculo dos criadores suíços Massimo Furlan e Claire de Raubepierre, desenvolvido a partir do concurso Eurovisão da Canção. Todas as canções são interpretadas no espetáculo, na língua original do seu autor, e avaliadas por um júri local, composto por figuras de destaque de várias áreas da sociedade. Estreado em setembro de 2019, no Teatro Vidy- Lausanne, na Suíça, Eurovisão da Canção Filosófica está a percorrer os onze países que fazem parte deste espetáculo, numa digressão europeia.

11 pensadores de 11 países europeus foram desafiados a escrever letras de canções que refletem questões do mundo contemporâneo. José Bragança de Miranda é o autor da letra da música de Portugal. Manuela Azevedo e Ana Deus são dois dos nomes do júri deste “festival”, que é coapresentado por Catarina Furtado

Esta breve e curta seleção, é uma parcial parte da agenda que a Larissa Silva preparou hoje, que pode ser vista aqui. Mas estes destaques servem sobretudo para apontar caminhos por onde ajudar um setor deprimido. Porque a melhor maneira de ajudar um artista há de ser sempre deixando-o fazer a sua arte — com todas as justas, devidas e necessárias condições.