O 31.º Congresso do CDS-PP arrancou hoje com hora e meia de atraso, com uma intervenção do presidente daquele órgão, José Manuel Rodrigues, a salientar que o partido está "vivo e mobilizado para crescer".
O presidente Nuno Melo viria um pouco mais tarde dizer aos militantes centristas: "Nunca se sintam parceiros menores desta coligação, porque não somos, somos aliados".
O também recandidato à liderança do partido apresentou a moção de estratégia global nesta reunião magna e repetiu a ideia que já tinha deixado em declarações aos jornalistas à chegada: "Nestas eleições, o CDS não foi muleta e o PSD não foi barriga de aluguer".
O presidente centrista considerou que "os dois partidos souberam ler os tempos" e "foram realmente essenciais para a derrota do PS, das esquerdas, para a mudança do ciclo político".
"A vitória foi possível porque CDS e PSD juntaram esforços e votos", afirmou, sustentando que o "CDS foi realmente determinante" e isso deve ser dito "com orgulho".
Na sua intervenção, durante a qual foi aplaudido várias vezes de pé, Nuno Melo afirmou que o CDS-PP juntou "votos e mandatos" à AD e defendeu que o partido aporta também a sua singularidade.
No futuro, o líder quer que o CDS-PP abrace "novas causas incontornáveis do século XXI" e indicou que vai modernizar a comunicação e a linguagem por forma a "atrair mais jovens", algo apoiado pelo presidente da Juventude Popular (JP), Francisco Camacho, que considerou que os jovens e os portugueses ganharam uma “nova esperança” com o regresso dos centristas ao parlamento, mas avisou que “nada é definitivo”.
"O CDS não é um partido antigo, é um partido moderno que tem respostas para os problemas", defendeu.
O discurso acabaria a durar quase meia hora e Nuno Melo ainda pediu aos centristas “que se animem, que estejam felizes” neste dia “muito importante” para o CDS-PP, sustentando que o partido “conquistou muita coisa” e isso deve-se "a todos".
"Profundamente social e democrata-cristão na sua distribuição"
Nuno Melo terminou o discurso a salientar as principais características do partido a que preside: “É um partido realmente liberal na criação de riqueza e na visão de mercado, mas é profundamente social e democrata-cristão na sua distribuição”.
Prometeu também “muita renovação” e indicou que o partido vai dar esse sinal nas eleições europeias.
Uma visão corroborada por Paulo Núncio, o líder parlamentar do partido, que começou por anunciar que vão pedir uma audição do ex-ministro das Finanças Fernando Medina na Comissão de Orçamento e Finanças para dar explicações sobre a redução artificial da dívida com dinheiro das pensões dos portugueses.
“Para o CDS, este combate é absolutamente prioritário para criarmos uma sociedade mais transparente e para reforçar a credibilidade das instituições democráticas”, indicou.
Apontou ainda que o CDS “sempre foi a voz dos polícias e dos militares”. O deputado referiu que, agora que o partido tem responsabilidades governamentais nas áreas da Defesa e da Administração Interna, “será uma prioridade do CDS defender os homens e mulheres que zelam pela defesa e segurança de Portugal”.
“A terceira bandeira será a redução dos impostos e crescimento económico. Continuaremos a lutar sem descanso para aliviar ainda mais os impostos sobre as famílias, para beneficiar os jovens com o IRS jovem e para dar competitividade às empresas através da redução do IRC”, indicou.
O líder parlamentar afirmou que este é “um momento decisivo da história do partido” e fez questão de responder às “forças de esquerda” que anunciaram “o fim do CDS”: “Enganaram-se, enganaram-se redondamente”.
“Não, o CDS não acabou, o CDS voltou a eleger deputados, o CDS regressou ao parlamento, o CDS está novamente no Governo de Portugal e não parece que a esquerda algum dia se veja livre do nosso CDS”, defendeu, afirmando que o parlamento “não estava completo, mas agora está”.
Num regresso ao que já tinha defendido em campanha eleitoral, Paulo Núncio salientou ainda que defender a “vida humana, quer no início da gestação, quer no final do seu período, continua a ser uma causa do CDS”, rejeitando a interrupção voluntária da gravidez e a eutanásia.
Durante a tarde, também o antigo deputado do CDS-PP Nuno Correia da Silva avisou os congressistas que o partido não pode repetir “erros do passado”, apelando que vá “ao combate” como “a direita civilizada” perante uma “esquerda radicalizada”.
“A esquerda quis destruir a família tentando dizer que uma família com um pai e uma mãe com dois ou três ou quatro filhos é igual a uma família com um filho e com três, quatro, cinco ou seis mães. Não, não é a mesma coisa", afirmou.
Também à direita, deixou avisos: “Essa direita, essa direita verdadeira, autêntica dos valores, tem que estar representada e temos que ocupar o espaço que é nosso. Não podemos deixar o espaço livre porque, tal como o agricultor que deixa de cultivar a terra, essa terra é tomada pela erva daninha. Também assim é a política”.
Aos valores conservadores juntou-se também Francisco Camacho, que no seu discurso sublinhou que “assegurar o futuro tem de responder na natalidade e na família”.
“Não precisamos que ninguém nos explique ou imponha a sua visão social, mas também não devemos admitir que outros neguem um modo de ser e de estar e de viver em família”, defendeu.
Um partido de resistentes
O ex-presidente centrista Paulo Portas também tomou a palavra no congresso e considerou que o CDS-PP resistiu a várias mortes anunciadas e que agora tem a oportunidade de "provar bem, com competência no serviço", que o partido é necessário.
O CDS "é um dos partidos resistentes e persistentes e por isso fundadores da democracia portuguesa e haverá sempre eleitores para o defender e militantes para o proteger", referiu.
"A oportunidade que nos é dada agora é a de provar bem, com competência no serviço, que o partido é necessário, que o partido contribui para a competência e é útil aos portugueses. Na era dos extremos nada é mais necessário do que convicção com moderação. Na era da demagogia nada é mais útil do que o serviço aos outros com competência", avisou.
Nas eleições europeias, alertou, o desafio não são apenas os extremos mas também “a maioria silenciosa que não vota”.
Também como antigo líder discursou igualmente o ex-presidente do CDS-PP Manuel Monteiro, que defendeu que a Aliança Democrática só ganhou as legislativas porque os centristas "estavam lá" e salientou que o partido tem valores que "não se negoceiam", lembrando que não existe "polícia do pensamento".
“É verdade. Mas o PSD só ganhou as eleições porque o CDS lá estava ao lado do PSD. Nós não esquecemos nem a nossa circunstância, nem somos ingratos. Mas uma coisa é não esquecer a nossa circunstância nem sermos ingratos, outra coisa é sermos esquecidos ou distraídos”, sustentou.
Monteiro, que foi um dos autores do polémico livro “Identidade e Família”, apresentado na semana passada pelo antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, disse ter participado “com muita honra” na obra e que “voltaria a participar ainda com mais vontade e ânimo” hoje.
“Para dizer que não há nenhuma polícia de pensamento em Portugal que nos possa impedir de ser livres e de defender o que convictamente acreditamos. O problema é que há por aí algumas pessoas que querem os votos da direita desprezando os valores da direita. E ninguém pode pretender ter os votos da direita desprezando os valores da direita. Isso tanto vale para nós como para o PSD”, avisou.
Recorde-se que o SAPO24 entrevistou o presidente do CDS, Nuno Melo, antes das eleições legislativas de 10 de março. Neste dia de congresso centrista a entrevista da jornalista Isabel Tavares pode ser recordada aqui.
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