O primeiro papa latino-americano da história, muito menos reservado que o antecessor alemão Bento XVI, aperta mãos e abraça pessoas, e não hesita em provar as bebidas que lhe são entregues.

Na sua missa inaugural na Praça São Pedro, em 19 de março de 2013, a espontaneidade do ex-arcebispo de Buenos Aires, que estava acostumado a andar de metro para visitar os seus fiéis, foi o começo de um pesadelo para os agentes de segurança.

Está fora de questão para Francisco, que defende uma Igreja transformada num "hospital de campanha", afastar as pessoas comuns atrás dos cordões de segurança.

"É preciso respeitar o estilo pessoal de cada Papa. Os oficiais de segurança sabem que não lhes cabe decidir", disse o seu porta-voz à data, padre Federico Lombardi.

Depois de quase sete anos de pontificado, o Papa conheceu recentemente o outro lado da moeda.

No dia 1 de janeiro, Francisco teve de pedir desculpa, antes da tradicional oração do Angelus, por ter "perdido a paciência" na noite anterior com uma fiel asiática que apertou com muita força a sua mão.

"Tantas vezes perdemos a paciência. Também eu. Peço desculpa pelo mau exemplo de ontem", assumiu o chefe da Igreja Católica, falando da janela do Palácio Apostólico na Praça de São Pedro.

Quando cumprimentava a multidão na Praça de São Pedro, uma mulher asiática agarrou a mão do Papa Francisco e puxou-o, o que deixou o líder da Igreja Católica visivelmente irritado. Este conseguiu soltar-se depois de bater algumas vezes na mão da peregrina.

Não é todavia a primeira vez que alguém faz o Papa Francisco zangar-se. Em fevereiro de 2016, durante uma missa no México num estádio, este irritou-se com um devoto excessivamente entusiasmado que o fez cair sobre uma criança em cadeira de rodas.

Na Praça São Pedro, a polícia italiana ajuda por norma a gendarmeria do Vaticano e os famosos guardas suíços, muitas vezes com roupas civis. Mas, contas feitas, todos fazem por cumprir o desejo de proximidade e liberdade do Papa.

Um pouco demais, é facto, para o gosto do "comandante Alfa", nome de código do fundador do Gis, um corpo de elite dos carabineiros italianos, cuja verdadeira identidade é desconhecida.

"Cabe à segurança do Papa pedir desculpas", disse comandante Alfa à agência italiana Agi, acusando-a de ter relaxado "talvez pela rotina" ou "falta de concentração" naquela noite na Praça de São Pedro.

Uma unidade de guarda-costas da gendarmaria do Vaticano segue constantemente o Papa, até quando este vai para o exterior. É fácil identificá-los, já que são os agentes que vemos a correr ao lado do carro do Papa. Apesar de muito treinados, também eles precisam às vezes se adaptar ao inesperado.

Um desses casos foi em janeiro de 2018, quando o Papa fez parar o comboio que o transportava pela cidade de Iquique, no norte do Chile, para ajudar uma polícia que acabara de cair do seu cavalo.

Mais preocupante, o líder de milhões de católicos foi alvo de vídeos de propaganda de radicais islâmicos.

"Pode ser apenas uma questão de tempo até que esse ataque ocorra em Roma. Mas estamos preparados para isso", garantiu Christoph Graf, comandante da guarda suíça, em 2017.

Os soldados responsáveis pela proteção do Vaticano recebem agora um treino mais severo, escreve a AFP.

Vários incidentes graves já envolveram Papas dos tempos modernos. O mais grave continua a ser o ataque a João Paulo II em 1981, quando o turco Mehmet Ali Agca, misturado a multidão, disparou, ferindo-o seriamente.

Em 2007, um alemão tentou pular para o "papamóvel" de Bento XVI na Praça São Pedro e, no Natal de 2009, uma mulher o atirou-o ao chão na Basílica.

Desde o ataque de 1981 que o "papamóvel" é blindado e os fiéis que desejam participar de eventos na Praça São Pedro ou na Basílica passam por detetores de metal.

*Por Catherine Marciano/AFP