Os últimos meses não foram nada menos do que truculentos, difíceis e excecionalmente duros. Parece que disso não haverá dúvidas. Mas os últimos dias desta semana que ainda nem terminou, para quem gosta e segue o mundo do futebol, têm sido para esquecer a nível emocional.
Hoje, o desporto nacional ficou imensamente mais pobre com a notícia da morte de Vítor Oliveira, aos 67 anos, depois de se sentir indisposto enquanto caminhava na zona de Matosinhos. Mas é uma notícia que nos chega na mesma semana em que o futebol português viu partir José Bastos, antigo guarda-redes do Benfica, e Reinaldo Teles, histórico dirigente do FC Porto, além, claro, da comoção mundial provocada pela morte de "Dios" Diego Armando Maradona.
Para barómetros de credibilidade, o britânico The Guardian é sinónimo de prestígio. É uma fonte confiável. À partida, se o assunto ganhou notoriedade para chamar a atenção daquela publicação é porque o caso é sério. E, nesta situação quem chamou a atenção foi Vítor Oliveira. Ou, melhor, os seus feitos no futebol nacional. O artigo data de 2017 e o que levou à sua redação foram números poucos comuns. Para qualquer campeonato ou divisão — de qualquer país.
Mesmo quem não segue o futebol nacional ou liga pouco ao futebol, mesmo quem nunca tenha sequer ouvido falar no nome do técnico, já ouviu nos últimos anos a expressão a "Rei das Subidas" num telejornal perto de si. Ora, isto deve-se ao facto de Vítor Oliveira ter conseguido 11 promoções ao principal escalão de futebol, em 18 presenças, ao serviço de Paços de Ferreira (1991 e 2019), Académica (1997), União de Leiria (1998), Belenenses (1999), Leixões (2007), Arouca (2013), Moreirense (2014), União da Madeira (2015), Desportivo de Chaves (2016) e Portimonense (2017) — o artigo ("Conheça Vítor Oliveira, o treinador que ganhou cinco promoções seguidas") do The Guardian é referente a esta altura do clube algarvio.
Na verdade, o artigo foi originalmente publicado no site These Football Times, dois dias antes. Mas como faz parte da rede de desporto do Guardian foi republicado no diário britânico com um novo título. O título original faz jus à carreira como nós a conhecemos: "O Indiscutível Rei das Subidas em Portugal". Fala da sua carreira, das promoções e do futuro.
No entanto, porquê subir e não colher os louros da promoção? Em 2015, explicou aquilo que o motivava: "Às vezes é melhor estar na II Liga a jogar para subir do que estar na I Liga a perder e a desgastar-me. Nessas duas propostas, prefiro uma equipa da II. Gosto de futebol e de treinar, seja na I ou na II, mas bom mesmo é estar na I Liga".
Vítor Oliveira ultrapassou a marca dos 1.000 jogos no nosso futebol, dava primazia a contratos de um ano, e, tal como recordou a agência Lusa no seu perfil, dispensou relações com empresários e escolheu sempre onde queria trabalhar, cultivando o respeito de jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos.
Sem clube, após ter conseguido alcançar a manutenção pelo Gil Vicente a época passada, estreou-se no comentário televisivo nos últimos tempos. E, hoje, depois de termos recebido durante a semana que nos tínhamos despedido de "Deus", tivemos que nos despedir do "Rei das Subidas".
Uma semana para o mundo do futebol esquecer.
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