Foram apenas quatro as mulheres empresárias, proprietárias de casas de fado ou de restaurantes localizados no típico bairro de Lisboa, que marcaram presença na escadaria frente à Assembleia da República, reclamando apoios devido às dificuldades que atravessam por causa da pandemia da covid-19.
“Viemos aqui hoje pedir apoio ao Governo. Estamos no mês de novembro e não há dinheiro para salários. Aproxima-se o mês de dezembro e muito menos temos para o 13.º mês. Pedir ajudas para a Segurança Social e pedir que o Governo reúna com a associação dos proprietários para sensibilizar os senhorios para negociar as rendas”, começou por explicar a presidente da Associação dos Comerciantes do Bairro de Alfama, Maria Argentina.
De acordo com a empresária, os senhorios estão a receber rendas em duodécimos, mas adianta que esta não é solução para quem tem “rendas excessivas”, porque “o bolo fica mais forte depois e quando isto acabar não sabemos se a economia vai evoluir”.
“Acredito que vai evoluir aos poucos, mas só vamos conseguir trabalhar normalmente daqui a dois anos”, acrescentou.
Maria Argentina, ou Tininha de Alfama como é conhecida, lembrou também que há moratórias a 18/20 meses feitas pelos proprietários dos restaurantes para pagamento de salários e que muitos destes já não podem pedir mais empréstimos.
“Estão com a corda na garganta, a fechar os estabelecimentos e a enviar currículos para ver se arranjam empregos”, contou.
Tininha de Alfama avançou ainda que muitos dos seus colegas comerciantes fecharam as casas para trespasse e que os restaurantes estão agora “a ser vendidos ao desbarato: começa a ser um banco de oportunistas, quem tem dinheiro compra”.
“O pouco que temos está a acabar”, lamentou a empresária, lembrando que nem ‘take-away’ dá para fazer no bairro, uma vez que os moradores são idosos e que a maioria das casas foi transformada em alojamento local para os turistas que agora nem sequer andam nas ruas.
Lúcia, empresárias que tem um restaurante há quatro anos no bairro, contou que nem teve de despedir os cinco empregados que tinha e aos quais nunca tinha faltado nada. Os dias abertos sem clientes levaram-nos a desistir e a procurar outros empregos: nas limpezas ou nas entregas.
“Esta segunda vaga está a meter-nos ainda mais para baixo. Não contestamos as medidas, mas pedimos apoio. Tentámos aguentar seis meses mas já não temos dinheiro”, explicou.
Ilda Aleixo, também empresária da restauração há cerca de 10 anos no bairro, recordou que agora Alfama “é um bairro deserto, sem turistas porque não podem viajar” e que moradores também são “poucos e idosos”, porque os outros foram-se embora por causa do alojamento local.
“As casas estão a fechar, não há ninguém, estamos nas últimas”, replicou, lembrando que muitos companheiros estão “já com problemas de depressão e sem verem solução para os seus problemas”.
“O Governo tem de olhar por nós”, apelou Ilda Aleixo, lembrando que na terça-feira a Câmara de Lisboa avançou que a restauração iria ter medidas de apoio, mas que ainda não sabia ao certo do que se tratava.
A deputada do Bloco de Esquerda Isabel Pires esteve no local onde se encontravam concentradas as empresárias para dar apoio, tentando deixar uma mensagem de esperança.
“Os problemas que estes comerciantes de Alfama nos trazem têm a ver com os apoios para os micro e pequenos empresários, que estão a ser feitos à base de linhas de crédito e moratórias, o que significa, a longo prazo, endividamento para os comerciante, não se sabendo quando será a retoma”, disse à Lusa Isabel Pires.
Para a deputada, a solução poderá passar por apoios diretos aos custos fixos dos empresários e fundos perdidos para que os pequenos negócios possam aguentar a crise provocada pela pandemia da covid-19.
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