Qual é a notícia?

Duas irmãs israelitas morreram a tiro na Cisjordânia ocupada e um atentado em Telavive vitimou uma pessoa e feriu outras cinco esta sexta-feira. Não se sabe se estes eventos estão relacionados, mas ocorreram menos de 24 horas depois dos bombardeamentos feitos por Israel contra a Faixa de Gaza e o sul do Líbano, em plena escalada da violência na região.

Mas porquê?

Tudo começou depois da intervenção da polícia israelita na quarta-feira na mesquita de Al-Aqsa de Jerusalém, coincidindo com as festividades do Ramadão muçulmano e da Páscoa judaica.

Foram detidas mais de 350 pessoas, segundo a polícia israelita, e 37 feridos, segundo o Crescente Vermelho, sendo que o movimento Hamas convocou os palestinianos a comparecer no local para defenderem o emblemático templo muçulmano.

Ambos os lados atiraram culpas de parte a parte, sendo que a Liga Árabe chegou mesmo a convocar uma reunião extraordinária após os incidentes e vários foguetes foram disparados da Faixa de Gaza, sob domínio do Hamas, contra Israel, cujas forças ripostaram, sem relatos de baixas ou danos.

Entretanto, ocorreram represálias mais sérias.

Quais?

Mais de 30 rockets foram disparados contra Israel a partir do Líbano, na escalada mais intensa do conflito desde 2006 na fronteira entre os dois países, que tecnicamente continuam em guerra após vários conflitos.

Desde abril de 2022 não eram disparados foguetes do Líbano em direção a Israel, que à época também bombardeou o país vizinho. Mas o incidente de quinta-feira é considerado o mais grave desde a guerra de 2006 contra o Hezbollah — movimento islâmico pró-iraniano que controla de facto o sul do Líbano e que esta quinta-feira manifestou apoio a "todas as medidas" tomadas por organizações palestinianas contra Israel.

Como é que Israel reagiu?

Com ataques no Líbano e na Faixa de Gaza contra o que o exército israelita determinou serem "infraestruturas terroristas do Hamas". Em Tiro, no sul do Líbano, correspondentes da AFP ouviram fortes explosões. "Pelo menos dois projéteis caíram perto do campo para refugiados palestinianos de Rashidieh, disse o refugiado Abu Ahmad à AFP.

“As Forças de Defesa de Israel (FDI) atacaram dois túneis terroristas e dois locais de fabrico de armas pertencentes à organização terrorista Hamas”, salientou em comunicado, no qual explicou que “o ataque foi realizado em resposta às violações de segurança pelo Hamas nos últimos dias”.

“As FDI responsabilizam a organização terrorista Hamas por todas as atividades terroristas que emanam da Faixa de Gaza e enfrentarão as consequências das violações de segurança contra Israel”, acrescentou o porta-voz militar.

Segundo o Exército, quer os projéteis lançados nesta quinta-feira da Faixa de Gaza, quer os disparados desde o Líbano, foram responsabilidade de grupos palestinianos. Já fontes de segurança palestinianas em Gaza disseram que o “bombardeamento pesado” israelita na Faixa de Gaza foi realizado com aviões de guerra.

De resto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tinha prometido para quinta-feira à noite uma resposta militar. “Vamos atacar os nossos inimigos e eles vão pagar o preço por cada ataque”, sublinhou Netanyahu na abertura de uma reunião do gabinete de segurança, de acordo com um pequeno vídeo divulgado pelo gabinete.

E o que aconteceu a seguir?

O Líbano fez saber que ia apresentar uma queixa ao Conselho de Segurança da ONU sobre o ataque israelita, considerando-o uma violação "flagrante" da sua soberania.

A medida foi anunciada pelo chefe da diplomacia libanesa, Abdullah Bou Habib, depois de ser aprovada pelo primeiro-ministro do país, Najib Mikati.

De resto, na noite de quinta-feira, Mikati tinha condenado o ataque ao território israelita, que o Estado judeu atribui a grupos armados palestinianos baseados no Líbano, e condenou “o uso do território libanês para realizar operações que desequilibrem a estabilidade” na região, pedindo para se evitar a “escalada” da violência.

No entanto, Israel considera que “o Estado libanês é responsável por todas as agressões que são realizadas a partir do seu território”, segundo um porta-voz militar israelita. É esta escalada que está a preocupar os observadores.

Porquê?

Porque o último grande confronto entre Israel e o Hezbollah, em 2006, causou grande mortandade, deiando mais de 1.200 mortos no lado libanês, maioritariamente civis, e 160 no lado israelita, na sua maioria soldados.

É por isso que o Egito — mediador chave entre palestinianos e israelitas – expressou hoje a sua “profunda preocupação” perante o agravamento do conflito nas últimas 48 horas.

“O Egito pede a todas as partes a máxima contenção, que parem de derramar sangue e protejam vidas”, destacou, acrescentando que a região estará em grande perigo se a atual onda de violência continuar.

Todavia, não só o Hamas e a Jihad Islâmica informaram nesta sexta-feira o Egito que "as fações palestinianas prosseguirão com os lançamentos de rockets, caso Israel continue com as agressões e bombardeamentos”, como os atentados de hoje só serviram para acicatar ainda mais os ânimos.

O que aconteceu?

De manhã, duas mulheres israelitas foram mortas e a sua mãe ficou ferida num ataque a tiro contra o seu veículo na Cisjordânia ocupada.

O exército de Israel especificou que o veículo foi atacado numa estrada em Hamra, no nordeste da Cisjordânia – território ocupado por Israel desde 1967.

Depois, já ao fim do dia, um homem na faixa etária dos 30 anos foi morto e outras cinco pessoas ficaram feridas num atentado no centro de Telavive. 

A polícia israelita, citada pela agência de notícias francesa AFP, falou de um "atentado terrorista contra civis, um atentado a partir de um veículo em movimento", e disse estar a investigar as circunstâncias do caso.

Nenhum destes acontecimentos foi reivindicado por algum dos grupos beligerantes, mas o timing das ocorrências ameaça fazer explodir um barril de pólvora já próximo de rebentar.

*com agências