O incêndio que deflagrou na madrugada de sexta-feira, por volta da 03:30, no edifício devoluto da antiga estação ferroviária da Boavista, para o qual há um pedido de classificação municipal, consumiu, segundo os Sapadores do Porto, parte do interior e da cobertura do edifício.

Na manhã de sexta-feira, a PSP avançava, à Lusa, que, à partida, não há suspeitas de crime.

Em resposta à Lusa, o PAN - Pessoas Animais Natureza salienta que o sucedido se reveste de "elevada gravidade, sobretudo tendo em conta as condições climatéricas" daquela madrugada, pelo que considera essencial que "se perceba o que causou a deflagração e que se apurem todas as responsabilidades".

Para o partido, em causa está um património de reconhecida importância a nível municipal cujo valor histórico e cultural não fica comprometido pelo incêndio.

"Apesar do edifício ter ficado, alegadamente, afetado com o incêndio, entende o PAN que não é motivo suficiente para lhe retirar todo o valor histórico e cultural que este carrega, pelo que esperamos que a Câmara Municipal do Porto, tão breve quanto possível, garanta as devidas diligências nesse sentido", remata o PAN.

Ouvido pela Lusa, o Bloco de Esquerda (BE) refere que o incêndio" vem reforçar a urgência da reabilitação do espaço do edificado e da história da cidade que ali se encontra inscrita, sob pena de chegarmos ao fim do processo sem pedra sobre pedra no património a classificar".

O partido acrescenta ainda que em face desta ocorrência, e porque houve já na cidade situações de fogo posto em processos de especulação e assédio imobiliário, deve existir uma "investigação rigorosa" para determinar as causas do incêndio, que aconteceu "numa madrugada de chuva e na mesma semana em que terminou a discussão pública do PDM [Plano Diretor Municipal] no âmbito da qual houve mais do que uma participação a referir estes terrenos".

Reiterando que está contra a construção de mais um centro comercial, o BE defende que qualquer solução para a antiga estação ferroviária da Boavista deve ter em conta a necessidade de espaços verdes bem como o potencial de resposta ao nível da habitação acessível.

"Para além disto, o património industrial existente naquele lugar deve ser preservado pelo que deve ser dada prioridade e resposta urgente ao pedido de classificação que está na CMP [Câmara Municipal do Porto] desde junho de 2020", remata o BE.

A Lusa ouviu os partidos com assento na Assembleia Municipal do Porto, tendo, na sexta-feira, o PS e PSD acusado a Infraestruturas de Portugal (IP) e a Câmara do Porto de negligenciar o edifício da antiga estação ferroviária da Boavista.

Já André Noronha, líder da bancada municipal do Movimento do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, rejeita fazer especulações, mas sublinhou que casos deste foro deverão naturalmente ser investigados.

Antes, em comunicado às redações, a CDU lamentou o incêndio que atingiu o edifício, defendendo que sendo acidental ou intencional, evidencia negligência do Governo com o património público.

Na sequência do incêndio, o Movimento por um jardim na Boavista instou as autoridades a investigar as causas e os responsáveis pelo incêndio "criminoso".

A Infraestruturas de Portugal anunciou que vai levantar um auto de notícia e admitiu que poderá "verificar-se a apresentação de uma queixa crime contra desconhecidos".

Para os terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista, está prevista para além de um grande armazém comercial, a instalação de um hotel e de um edifício de habitação comércio e serviços, cujo Pedido de Informação Prévia (PIP) foi aprovado pelo município em outubro.

Até ao momento, a cadeia espanhola terá pago à IP, proprietária do terreno, 18,7 milhões de euros.