O Reino Unido tem 14 territórios ultramarinos no mundo, das Malvinas a Gibraltar, passando pelas Ilhas Cayman e Bermudas, além de três dependências da Coroa e outros territórios britânicos semi-independentes localizados mesmo ao pé da Grã-Bretanha: a Ilha de Man, no Mar da Irlanda, e as ilhas Jersey e de Guernsey, muito próximas de França.

Trata-se de restos do Império Britânico que decidiram não se tornar independentes e permanecem sob soberania britânica. Contam com grande autonomia e elegem os seus governos, quando há cidadãos suficientes que o justifiquem, o que não é o caso no Território Antártico Britânico. Sete desses territórios foram classificados como "jurisdições secretas", ou seja, com sigilo fiscal, pela organização Tax Justice Network: Anguila, Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Caimão, Gibraltar, Montserrat e as ilhas Turcas e Caicos.

Estes territórios têm as suas próprias leis, que lhes permitem oferecer baixos impostos ou isenção fiscal, além de poderem tranquilizar os investidores, garantindo que Londres intervirá em caso de agitação política ou económica.

A ONG Oxfam publicou na segunda-feira uma carta de 300 economistas, entre eles o francês Thomas Piketty, atual Nobel de Economia, Nora Lustig e Olivier Blanchard, pedindo o fim dos paraísos fiscais, que contribuem para que a desigualdade seja perpetuada e "não têm qualquer propósito económico útil". A carta pede ao Reino Unido que lidere o combate "porque tem uma posição única, como anfitrião da cúpula e país que tem a soberania sobre um terço dos paraísos fiscais do mundo".

"Lugares ao sol para pessoas obscuras"

Os paraísos fiscais foram uma vez descritos por um ministro britânico como "lugares ao sol para pessoas obscuras", mas muitos tentaram promover uma "limpeza" nos últimos anos. Foram assinados acordos para partilhar informação financeira com as autoridades fiscais de outros países, e recentemente comprometeram-se a permitir que a polícia britânica saiba quem beneficia das empresas ali registadas. Os ativistas dizem que isto não é suficiente e pressionam para que os registos dos beneficiários das empresas sejam públicos.

As Ilhas Virgens Britânicas e as Ilhas Caimão são os dois territórios britânicos de ultramar menos transparentes. O escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca registou 113.000 empresas nas Ilhas Virgens Britânicas, que reúnem mais de 60 ilhas do Caribe. Há quatro décadas eram uma comunidade agrícola pobre, mas agora, apesar de terem uma população de menos de 30 mil habitantes, encontram-se entre os cinco maiores investidores na Rússia e na China, segundo um relatório da OCDE de 2014. A Tax Justice Network afirma que as Ilhas Virgens são o maior centro de constituição de empresas do mundo, com 479.000 empresas fantasmas ativas no início de 2015. De acordo com a agência de comércio das Nações Unidas, UNCTAD, as Ilhas Virgens receberam 56,5 mil milhões de dólares de investimento estrangeiro direto em 2014, enquanto as saídas de investimentos foram de 54,3 mil milhões de dólares.

Já as ilhas Caimão, que no passado foram o destino favorito dos traficantes para esconderem o seu dinheiro, são agora o sexto maior centro bancário do mundo, segundo a Tax Justice Network. Em 2014 tinham aproximadamente 1,4 biliões de dólares em ativos bancários, 200 bancos e mais de 95.000 empresas registadas, tudo isso com uma população estimada de 55.000 habitantes.