"Não respeitamos a dissimulação em política e por isso denunciamos […], não aceitaremos um ambiente de intolerância em que só se discute o futuro segundo a perspetiva do pensamento dominante e em que quem não pensa como quem está no Governo não é bom português, é racista, é xenófobo ou é outra coisa qualquer", criticou Passos Coelho, na intervenção de encerramento na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide (Portalegre).

Nos últimos tempos, quer a propósito de declarações polémicas do candidato do PSD à Câmara de Loures, André Ventura, quer quanto à intervenção do líder do PSD no Pontal - que criticou alterações à lei da imigração -, o PS e o BE já fizeram acusações de racismo e xenofobia ao discurso de Passos Coelho.

Numa intervenção de 50 minutos, Passos Coelho nunca se referiu às eleições autárquicas, que se disputam a 1 de outubro, e voltou a defender as intervenções do ex-Presidente da República Cavaco Silva e do eurodeputado do PSD Paulo Rangel na Universidade de Verão, que mereceram reações críticas da esquerda.

"O dr. Cavaco Silva não tem direito a exprimir a sua opinião? Se o fizer tem logo de ser o ressabiado, o que precisa de palco?", criticou, depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter dito que o antigo chefe de Estado "tinha saudades de palco".

Passos Coelho lamentou que as críticas - quer a Cavaco Silva, quer a Rangel - tenham procurado "desqualificar a pessoa, como se não tivesse direito à opinião, ainda por cima fundamentada".

"Não temos direito a ter a nossa opinião?", questionou.

Para Passos Coelho, o atual Governo "só tem uma preocupação": "Poder apresentar as suas escolhas de forma tão dissimulada que quando tiverem de ser confrontados em eleições se possa diabolizar a oposição e se possa vender um benefício muito relativo do exercício do poder".

"Nós, no Governo ou na oposição, mantemos o nosso foco na esfera de médio ou longo prazo […]. Deixamos essa espuma dos dias para a geringonça", afirmou.

Passos Coelho apontou o caso da fábrica de automóveis Autoeuropa como um exemplo dessa "espuma dos dias", referindo-se a declarações de sábado da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, e do líder comunista Jerónimo de Sousa.

"O que se observa na Autoeuropa hoje, e cito, é uma partidarização do conflito laboral, coisa que outra personalidade da ‘geringonça' considera ser uma crítica estúpida. Um diz que há e outro diz que não há", apontou, vaticinando que este tipo de contradições se "tornarão mais evidentes" nos dois anos que faltam para terminar a legislatura.

No entanto, Passos considerou que o atual Governo tinha "condições muito particulares" para levar a cabo "uma ação reformista a pensar no futuro".

"O Governo não se pode queixar de falta de estabilidade política […], não se pode queixar da falta de cooperação do Presidente da República - tem sido permanente e efetiva -, não se pode queixar de intolerância de Bruxelas e conta também com uma enorme tolerância de vários parceiros na sociedade civil, uns porque têm medo de se opor e outros porque acreditam no que o Governo está a fazer", disse.

"São tantas as condições boas para que o Governo possa preparar alguma coisa com sentido de Estado e de futuro que é legítima a pergunta: porque não o faz?", questionou.

O líder do PSD defendeu que o caminho do partido, no Governo ou na oposição, é o que permita que o país possa viver "com menos solavancos externos", salientando que Portugal foi o único país a recorrer três vezes à ajuda externa em poucas décadas.

No final do seu discurso, Passos pediu "uma análise imparcial e isenta" da ação quer do Governo, quer da oposição, num ‘recado' dirigido aparentemente à comunicação social e comentadores.

"Isto é um desafio para todos, cá dentro e fora do partido", disse.