“Temos um Governo tão lesto, tão rápido a exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia, a Direção Nacional da PSP e em recolocar nesses lugares gente do seu interesse, e tão demorado, tão atrapalhado e tão enrolado a resolver os problemas concretos quer das forças de segurança, quer dos milhares e milhares de casos de imigrantes que estão por resolver”, acusou Paulo Raimundo, num comício no Jardim da República, em Santarém.

Nesta sua intervenção, o líder do PCP destacou que os imigrantes são “alvo das mais variadas discriminações” e estão sujeitos a condições de trabalho “mais precárias, mais difíceis e mais inaceitáveis do que todos os outros” trabalhadores.

Paulo Raimundo voltou a condenar, sem “meias palavras”, as agressões a imigrantes que ocorreram na sexta-feira no Porto, salientando que “infelizmente não foram casos isolados”, e defendeu que não se pode permitir que “estes crimes sejam normalizados”.

“Este é também o momento de condenar o monstro que dá voz a todos estes acontecimentos e, depois de eles acontecerem, vem deitar lágrimas de crocodilo como se não tivessem nada a ver com isso”, afirmou, numa alusão implícita ao Chega, que nunca nomeou explicitamente.

Ao longo do discurso, o secretário-geral do PCP fez várias críticas ao Governo, que acusou de estar a fazer uma “estratégia de vitimização”, ao mesmo tempo “que procura justificações, todos os dias, para não cumprir as promessas que foi fazendo durante a campanha eleitoral”.

“Aliás, se dúvidas houvesse, as propostas avançadas às forças de segurança em torno da atribuição do subsídio de risco, ou as propostas avançadas aos professores em torno do suposto reconhecimento do tempo de serviço, ao qual querem em troca direitos adquiridos, são provas dessa mesma estratégia”, afirmou.

Raimundo centrou uma parte da sua intervenção na questão dos salários, salientando que não se aumentam “com reformas fiscais ou cortando nas contribuições da Segurança”, mas só se o seu valor real for efetivamente aumentado.

O secretário-geral do PCP defendeu que não “vale a pena” o Governo vir com a conversa de que “primeiro é preciso crescer a economia, depois aumentar a produtividade e depois, se tiver um dia bonito e não chover, talvez seja possível aumentar os salários”.

“Isso é tudo ao contrário da realidade: é que a economia cresceu, a produtividade há 20 anos que cresce, crescem os lucros, cresce o aumento do preço dos bens essenciais.... Cresce tudo, a única coisa que não cresce de forma real são os salários. Portanto, enrolem essa conversa, metam essa conversa onde quiserem”, afirmou.

Depois, Raimundo abordou as novas regras orçamentais da União Europeia, que entraram em vigor na semana passada, alegando que implicarão “cortes na despesa pública de 2,8 mil milhões de euros”.

“Onde é que vai ser esse corte de despesa? Será nos benefícios fiscais às grandes empresas, será que vai ser nas parcerias público-privadas, em particular nas rodoviárias, ou vai sobrar para o SNS, para os salários, carreiras, e serviços públicos?”, perguntou, salientando que as regras foram aprovadas no Parlamento Europeu com o voto favorável de PS, PSD e CDS e deixando um desafio à comunicação social.

“Questionem o PS, o PSD, o CDS, o Chega e IL: porque é que estão de acordo com as novas regras orçamentais, com as implicações que isso tem na vida de cada de um nós? Os partidos comprometidos com estas opções vão ter de responder a isto”, disse.

Paulo Raimundo terminou o seu discurso fazendo um forte apelo à mobilização dos militantes do PCP para as eleições europeias e salientou que a participação popular nas comemorações do 25 de Abril e na manifestação do 1.º de Maio dão uma “confiança inabalável” à CDU.