Pedro Nuno Santos cumprimentou todos os presentes, fazendo em especial referência a "Francisco Assis pelo apoio a esta candidatura". Assis representa a ala direita do Partido Socialistas.

"Os acontecimentos recentes, conhecidos de todos os portugueses, levaram António Costa a demitir-se das funções de primeiro-ministro e de secretário-geral do PS. É neste quadro, que aberto um processo eleitoral interno, eu apresento a minha candidatura a secretário-geral do PS", começou por dizer Pedro Nuno Santos, sendo aplaudido pelo militantes que gritavam "PS, PS".

"Os portugueses e os militantes conhecem-me. Conhecem as minhas qualidade e defeitos, o meu inconformismo e combatividade. Conhecem os meus erros e cicatrizes. Os erros e cicatrizes fazem parte das nossas vidas. Aqueles que não fazem, que não decidem, esses raramente comentem erros", afirmou Pedro Nuno Santos.

"Quem aprende com os erros está preparado para os evitar e para melhor decidir no futuro. Somos fruto de onde crescemos. Eu cresci com dificuldades diante dos meus olhos", disse Pedro Nuno Santos, fazendo referência à sua terra natal, São João da Madeira.

Fazendo referência a António Costa, Pedro Nuno Santos afirmou que "foi um dos primeiros a apoiar", e que António Costa "foi o líder que, perante a catástrofe dos incêndios em 2017, liderou uma reforma que produziu resultados nos anos seguintes. António Costa foi o líder que conduziu de forma exemplar à crise pandémica, em 2020 e 2021. Foram anos não apenas de gestão de crise, mas Portugal cresceu acima da média europeia".

"Há pergunta que alguns analistas fazem: qual foi o desígnio de António Costa?. E para a qual só teremos resposta com o devido distanciamento no tempo. Usarei a expressão do próprio para responder a este desígnio, vou cometer este abuso: Emprego, emprego e emprego", afirmou Pedro Nuno Santos.

"Foram mais de 600 mil empregos criados, desde 2015. É verdade que ainda há muito que fazer. Mas, seria errado e injusto não referir o legado deixado ao país por António Costa. Não vou ignorar os acontecimentos da semana passada que abalaram as instituições públicas. Mas, quero afirmar que o combate à corrupção constitui uma tarefa prioritária e indeclinável do Estado".

"A justiça é central para um funcionamento de uma democracia de qualidade. Mas, o PS não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial", garantiu Pedro Nuno Santos.

"Neste momento deixem-me destacar três preocupações centrais. Em primeiro lugar, os salários. Sem salários dignos, os trabalhadores portugueses não se sentirão respeitados. Não vamos estancar a saída dos jovens. Portugal só conseguirá ser um país desenvolvido e próspero se respeitarmos os que trabalharam um vida inteira e os jovens que fazem o futuro do nosso país. Precisámos de empresas fortes e rentáveis. Precisamos de uma economia sofisticada e diversificada."

Olhando para os seus adversários, Pedro Nuno Santos criticou fortemente a direita. Para o antigo ministro "é preciso lembrar que a direita não cumpre as suas promessas. Ainda agora nos promete que não fará acordos com a direita populista, racista, xenófoba, mas é precisamente isso que se prepara par fazer", ataca Pedro Nuno Santos à direita. "É preciso lembrar que a direita não tem dignidade".

"Só com um Partido Socialista unido e forte é possível melhorar condições de vida e dar esperança à maioria das pessoas. Divisão no PS tem pouco sentido", destacou o deputado eleito por Aveiro.

Pedro Nuno Santos, antigo ministro das Infraestruturas e Habitação e ex-secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, tem sido apontado nos últimos anos como um dos prováveis sucessores de António Costa no cargo de secretário-geral do PS, posicionando-se na ala esquerda do partido.

Além do deputado eleito por Aveiro, também o ministro da Administração Interna e ex-secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, é candidato à liderança dos socialistas, associado à ala moderada.

Em julho, Pedro Nuno Santos regressou à Assembleia da República para assumir o lugar de deputado pelo círculo de Aveiro na bancada socialista, seis meses depois de se ter demitido do Governo para “assumir a responsabilidade política” do caso da indemnização de 500 mil euros paga pela TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis para deixar a companhia aérea.

Além deste caso, o ex-ministro esteve diretamente envolvido noutra polémica quando, em junho do ano passado, publicou uma portaria sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa sem conhecimento prévio do primeiro-ministro e em contradição direta com a garantia por este deixada de que a escolha por parte do Estado seria feita através de um processo consensualizado com o PSD.

Licenciado em Economia, Pedro Nuno Santos foi secretário-geral da Juventude Socialista (JS) entre 2004 e 2008, sob a liderança de José Sócrates no PS, é deputado desde 2005, e foi apoiante e depois opositor do ex-líder António José Seguro.

Foi também secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares logo no primeiro executivo, da denominada “geringonça”, período em que um executivo minoritário do PS contou com uma solução inédita de suporte parlamentar de PCP, BE e PEV, entre 2015 e 2021.

Pedro Nuno Santos começou a posicionar-se como potencial candidato à sucessão de António Costa já há cinco anos, no congresso de 2018.

As eleições diretas para a sucessão de António Costa no PS estão marcadas para 15 e 16 de dezembro — em simultâneo com a eleição de delegados — e o congresso está previsto para 06 e 07 de janeiro.

Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da demissão do primeiro-ministro, no passado dia 07 de novembro.

António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público (MP) no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.