A investigadora do Centro de Trauma da Universidade de Coimbra e estudante de doutoramento da Faculdade de Psicologia Joana Becker está a realizar trabalho no terreno, junto de bombeiros que participaram no combate às chamas em 2017, nomeadamente no grande incêndio de Pedrógão Grande.
Dos 32 questionários respondidos nas corporações de bombeiros de Castelo Branco, Cernache do Bonjardim (Sertã) e Pampilhosa da Serra, a investigadora identificou 23 bombeiros que "apresentam sinais de stress pós-traumático".
Os resultados dos questionários que já elaborou mostram uma "prevalência elevada" dos sinais de stress pós-traumático, acrescenta.
Depois de ter realizado um mestrado em torno do stress pós-traumático em veteranos da guerra colonial, Joana Becker está a desenvolver uma tese de doutoramento sobre o impacto da psicoterapia dinâmica (identifica e aborda emoções e processos inconscientes que resultam numa ampla gama de sintomas, como depressão, ansiedade e somatização) em bombeiros com sinais de stress.
O trabalho no terreno começou em abril, sendo que, para além de aplicar questionários, está a fazer consultas de psicoterapia uma a duas vezes por semana nas corporações de bombeiros de Cernache do Bonjardim e de Castelo Branco.
Até ao final deste ano, a investigadora pretende aplicar os questionários a 250 bombeiros da região Centro e, em 2019, pretende fazer atendimento em mais uma ou duas corporações da região Centro.
"Os bombeiros trabalharam muitas horas sem descanso e viram pessoas em sofrimento, que perderam tudo", disse à agência Lusa a investigadora, realçando o sentimento de impotência perante o descontrolo das chamas, a sua gravidade e extensão.
De acordo com Joana Becker, a maioria apresenta perturbação do sono, assim como stress e ansiedade ao se recordarem ou relatarem determinada situação no combate ao fogo, para além de haver um "sentimento de culpa, que é muito comum no caso de bombeiros".
"Os bombeiros estão acostumados aos incêndios florestais, mas este foi um fogo anormal", vincou.
Os bombeiros "têm uma profissão de risco e deveria haver uma atenção maior sobre o tratamento. Acho muito positivo a forma como os bombeiros e os comandantes viram o meu trabalho. Estão mais abertos para ouvir uma psicóloga e nota-se que se está a perder esse preconceito", sublinhou a investigadora do Centro de Trauma.
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