“Não é uma crítica religiosa, cada um acredita naquilo que acredita, mas é evidente que o milagre é um embuste, uma farsa, uma má encenação com cem anos, tempo já para ter sido desmascarado e que hoje em dia se tornou um negócio”, justificou hoje à agência Lusa Pedro Barroso.
Intitulada “Contra a credibilização do ‘milagre’ de Fátima”, a petição é dirigida ao bispo de Leiria, ao Patriarcado de Lisboa, ao núncio apostólico e à Conferência Episcopal Portuguesa.
Entre os primeiros subscritores estão também os antropólogos João Carlos Lopes e Carlos Simões Nuno, o professor do Instituto Politécnico de Tomar Luís Mota Figueira, o antigo coordenador da CGTP no distrito de Santarém Valdemar Henriques, o engenheiro João Saramago e o jornalista André Nuno Lopes.
“O que nós achamos é que o papa, ao visitar Fátima, credibiliza, ratifica a situação, que começou por ser uma mentira e que hoje em dia é essencialmente um negócio”, explicou Pedro Barroso.
O músico esclareceu que nada os move contra qualquer tipo de religião e que não são “os detentores do conhecimento”, apenas entendem que “já era tempo de se discutir, de uma forma menos apaixonada e mais pragmática, aquilo tudo que aconteceu”.
“O papa Francisco tem sido uma personalidade que nos merece algum respeito por muitas atitudes em prol de uma igreja mais moderna, uma igreja da verdade, uma igreja católica de grande responsabilidade e com intervenções até muitas vezes sociais e públicas de grande valor. Como é que ele agora vem credibilizar uma anedota destas?”, questionou.
Segundo Pedro Barroso, como já vários papas se deslocaram a Fátima, Francisco “está metido num beco de onde provavelmente não há uma saída airosa”.
“Queremos chamar a atenção do papa Francisco, já que tanto insiste em vir a Fátima: venha mas traga o chicote, como fez Jesus Cristo para expulsar os vendilhões do templo, porque isto está convertido num circo de oportunismos variados, já não estamos a falar dos religiosos, mas sobretudo dos comerciais”, frisou.
Na petição, os subscritores referem que “o chamado ‘milagre dos três pastorinhos’ não passa de um autêntico embuste, algo que mereceu até hoje a atenção de estudiosos sobre o que realmente aconteceu em maio de 1917 e sobre o processo contínuo e imparável de exploração religiosa montado sobre tão ingénua encenação”.
“Quem se informar sobre este caso, fica a conhecer facilmente a forma como os acontecimentos na época foram urdidos, planeados e tramados – entre a dúvida inicial e a posterior complacência da Igreja Católica – numa era de grande obscurantismo cultural e com evidente aproveitamento dessa rústica ignorância”, acrescenta.
Os subscritores da petição consideram que “não é preciso grande esforço para chegar a esta conclusão, nem grande erudição teológica para analisar o caso” e que “a evidência do logro fica bem clara, bastando, no essencial, ler alguns documentos oficiais e livros de pessoas – algumas assumidamente católicas – com autoridade na matéria sobre o chamado ‘milagre’ de Fátima, para concluir pela sua total inconsistência”.
Exemplos desses livros são “Fátima Nunca Mais” (1999) e “Fátima SA” (2015), do padre Mário de Oliveira, que assina a petição.
Por isso, entendem que, “em coerência com a postura de seriedade” que tem tido, “o melhor serviço que o papa Francisco prestaria à verdade histórica seria não vir a Fátima, assim desmistificando o chamado ‘milagre dos pastorinhos’, recusando colaborar com ele ou dar-lhe o seu aval”.
O papa deverá estar em Portugal a 12 e 13 de maio de 2017, por ocasião do centenário das aparições.
Francisco será o quarto papa a visitar Portugal, depois de Paulo VI – 50 anos das aparições -, João Paulo II (12-15 de maio de 1982, 10-13 de maio de 1991 e 12-13 de maio de 2000) e Bento XVI (11-14 de maio de 2010).
O papa João Paulo II cumpriu ainda uma escala técnica no aeroporto de Lisboa, em 1982, a caminho da América Central.
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