“Para além da reunião dos líderes de Portugal, Espanha e França, num encontro que penso que será marcante entre os três países, um dos aspetos muito importantes é o assinar-se um protocolo e um acordo sobre as interligações com uma meta muito ambiciosa”, disse em declarações à agência Lusa o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.

De acordo com o governante, “hoje as interligações entre a Península Ibérica e França correspondem a pouco mais de 2% do consumo de Portugal e Espanha”, pelo que com a infraestrutura prevista no acordo haverá “um aumento dessa capacidade de interligação para 15%” em 2030.

Este projeto envolve Portugal, Espanha e França e tem o intuito e cumprir a meta europeia de 10% do nível de interligações elétricas até 2020, prevendo ligações entre Portugal e Espanha (pela Galiza) e Espanha e França (pelo Golfo da Biscaia e pelos Pirenéus).

Com a assinatura na cimeira em Lisboa, os países comprometem-se a avançar “já no próximo ano” com a interligação no Golfo da Biscaia, fazendo “estudos e os lançamentos de concursos, que são processos complicados”, explicou à Lusa Caldeira Cabral.

Contudo, ressalvou que, para atingir a meta dos 15% de interconexão, serão necessários “projetos adicionais”.

O ministro da Economia lembrou que esta era há muito uma ambição de Portugal e Espanha: “Quando entrámos para o Governo, este processo arrastava-se há muitos anos, mas estava parado, e o que fizemos foi colocar este como um aspeto importante, nomeadamente no pacote das energias limpas para todos os europeus”.

De acordo com o governante, o projeto em causa vai ter “consequências muito importantes como a descida dos preços”.

“A Península Ibérica tem tido, historicamente, preços de energia elétrica mais elevados do que os preços que se praticam no centro da União Europeia, e este isolamento do mercado contribuía para esses preços mais elevados”, justificou.

Ao mesmo tempo, “este aumento de capacidade de interligação vai permitir que cada vez mais Portugal possa escoar uma parte da sua energia, em particular da energia produzida a partir de renováveis”, referiu Caldeira Cabral.

Em causa está um investimento superior a 570 milhões de euros para a primeira fase.

“Já houve uma aprovação por parte da Comissão Europeia de 578 milhões de euros para financiar esse projeto, sendo que o projeto necessitará de financiamento adicional do BEI [Banco Europeu de Investimento] para poder ser concretizado”, indicou à Lusa.

Apesar de admitir que estes são “montantes de investimento muito elevados”, Caldeira Cabral destacou os “ganhos a médio e longo prazo muito elevados para as empresas portuguesas e para os consumidores portugueses e famílias, que vão passar a ter acesso a energia mais barata e que vão também contribuir para baixar os preços gerais do sistema, rentabilizando as energias renováveis de forma diferente pela exportação”.

“Assinar com França e Espanha um acordo para essa interligação acontecer muda radicalmente o que é o cenário energético em Portugal, que era um cenário de isolamento, apenas ligado ao mercado espanhol e que passará a ser um cenário de plena integração na União Europeia e no mercado europeu de energia”, concluiu o responsável.

Na cimeira, que decorre na sexta-feira em Lisboa, estarão presentes os chefes de Governo de Portugal, António Costa, e de Espanha, Pedro Sánchez, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, bem como o comissário europeu responsável pela pasta Ação Climática e Energia, o espanhol Miguel Arias Cañete, e a vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, Emma Navarro.