Nos últimos 18 meses, pelo menos 32 empresários luso-sul-africanos foram alvo de sequestros por resgate na província sul-africana de Gauteng, epicentro da violenta criminalidade e raptos no país africano, indicaram várias fontes à Lusa.
Dados oficiais, divulgados pela Polícia Sul-Africana, indicam que entre outubro e dezembro de 2023, a província de Gauteng registou um agravamento de 20% no número de sequestros, registando 2.367 casos, o que representa mais da metade dos sequestros no país durante o período em análise (4.577 casos).
Na província mineira sul-africana, considerada o motor da economia da África do Sul, onde se situa Joanesburgo, e Pretória, a capital do país, situam-se também 23 das 30 esquadras de polícias do país com o maior número de casos de rapto reportados à polícia sul-africana.
Á Lusa, o embaixador de Portugal em Pretória sublinhou que as autoridades portuguesas estão “a acompanhar com preocupação” o sequestro de compatriotas lusos, frisando que se está “perante uma série de raptos que estão a atingir a comunidade portuguesa numa área geográfica determinada, e por outro lado, pessoas que estão no mesmo ramo de atividade”
“Tenho a intenção de pedir uma audiência ao senhor ministro da Polícia, após ele tomar posse, o que deve acontecer amanhã [quarta-feira], no sentido também de o sensibilizar para um assunto que tem naturalmente repercussões muito negativas sobre uma comunidade ordeira, (…) que tem um papel importante na economia da África do Sul, e, por conseguinte, esperar também da parte dele (…) a possibilidade de aumentar a segurança destas pessoas de maneira a evitar (…) uma onda sucessiva de raptos”, salientou.
O diplomata português sublinhou ainda à Lusa que os portugueses na África do Sul encontram-se “apreensivos” com a onda crescente de raptos à mão armada, a uma média de dois sequestros/dia, desde janeiro de 2023, e valores de resgate milionários.
“Pretendo dizer-lhe [ao ministro] que a comunidade está apreensiva, que (…) tem razões para estar apreensiva porque nota que tem sido alvo de repetidos atos de banditismo, e que necessita que lhe seja dada uma atenção específica no sentido de haver um melhor policiamento, (…) uma melhor segurança relativamente ao desempenho das suas atividades que têm um impacto na economia sul-africana”, adiantou.
José Costa Pereira avançou também à Lusa que o Consulado Geral de Portugal, em Joanesburgo, “tem estado em contacto com as famílias, respeitando, porém, as indicações que as famílias (…) dão, muitas vezes relativamente ao sigilo inerente a estes casos, por uma questão de precaução relativamente à vida dos familiares que são raptados”.
“Estamos também a efetuar diligências junto das autoridades policiais sul-africanas, a cônsul-geral está a tentar falar com o responsável de um departamento que se ocupa de casos de raptos”, adiantou.
Em 2023 registaram-se pelo menos 18 casos de rapto de cidadãos com nacionalidade portuguesa na região de Gauteng, segundo o diplomata português.
“Quando for falar com o senhor ministro, se ele aceitar receber-me, tenho que lhe levar um dossiê para lhe dar a exata noção daquilo que tem acontecido, quer dizer, não são um, dois ou três casos que houve esta semana, mas temos visto que isso já tem acontecido mais vezes”, adiantou.
O dirigente do Fórum Português da África do Sul, Manny Ferreirinha, disse à Lusa que a organização não-governamental luso-sul-africana está a investigar 14 casos de rapto de empresários luso-sul-africanos na província sul-africana de Gauteng, que registou desde janeiro deste ano.
Segundo dados do Governo sul-africano, residem na África do Sul cerca de 200 mil cidadãos portugueses e perto de meio milhão de lusodescendentes.
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