"O nosso cliente Hugo Góis está em Portugal em articulação permanente com as autoridades portuguesas no sentido de auxiliar a investigação. Vem assim identificar contas bancárias ou bens suscetíveis de serem apreendidos pelas autoridades portuguesas para a recuperação de ativos provenientes de atos de branqueamento", afirmou o advogado do empresário, Pedro Marinho Falcão, em declarações à Lusa.

Na quinta-feira, a polícia espanhola anunciou em Madrid que uma série de transferências, feitas por "um cidadão português" há mais de um ano, levou ao desmantelamento de uma rede de venezuelanos que se dedicavam ao branqueamento de capitais.

"A investigação começou há mais de um ano, quando os agentes detetaram uma série de transferências, feitas por um cidadão português a partir do estrangeiro, que tinham como destino contas bancárias de pessoas ligadas a ex-políticos venezuelanos e gerentes de uma empresa de gestão de património em Espanha", revelou a Polícia Nacional espanhola em comunicado.

Segundo Pedro Marinho Falcão, tanto em Portugal como em Espanha Hugo Góis "é apenas colaborador da investigação", continuando a cooperar com as procuradorias portuguesa e espanhola, tal como fez deste o início da investigação.

"A partir do momento em que soube que os dinheiros que ele geria poderiam ser provenientes de atividades ilícitas, imediatamente suspendeu a atividade de gestão e comunicou às autoridades judiciárias a existência desses fundos com vista a uma eventual restituição", sublinhou.

Pedro Marinho Falcão garantiu ainda que Hugo Góis "não tem nenhum mandado de captura nem de extradição proveniente dos Estados Unidos", que pediu a captura de três pessoas ligadas a uma entidade chamada Suisse Invest por alegadamente estarem envolvidas em crimes de corrupção e branqueamento.

Segundo o mesmo, em Portugal o processo está ainda em fase de investigação.

"Em Espanha, para além da investigação está em fase de detenção das pessoas suspeitas, nomeadamente o empresário argentino Luis Fernando Vuteff e o ex-ministro da energia de Hugo Chaves, Nervis Villalobos", afirmou.

Segundo a polícia espanhola, na quinta-feira foram detidas quatro pessoas em Madrid e emitidos três mandados de detenção internacionais.

Os agentes da autoridade também embargaram preventivamente 115 imóveis avaliados em 60 milhões de euros, entre os quais um hotel, dois edifícios de apartamentos, uma urbanização de luxo com mais de 60 vivendas situada em Marbella (Espanha) e várias casas no bairro de Salamanca (Madrid).

Com a ajuda dos mecanismos de cooperação policial internacional, os agentes verificaram que "essa pessoa" de nacionalidade portuguesa também estava a ser investigada pelo Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

A polícia espanhola explica que, "aparentemente", o português estava envolvido num esquema de ajuda a "vários ex-diretores de uma empresa pública venezuelana" para lavar mais de 1.200 milhões de euros obtidos através de subornos, no que é conhecido nos Estados Unidos como o caso "Money Flight".

A colaboração entre os dois países permitiu concluir que a empresa de gestão de património oferecia serviços de lavagem de capitais aos políticos e executivos venezuelanos da empresa pública referida antes.

O esquema contava com uma "complexa estrutura corporativa com ramificações na Suíça, Malta e Itália" e permitiu esconder os lucros obtidos da atividade criminosa, tendo sido investidos fundos em ativos imobiliários localizados na Espanha.