José Maria Neves, que intervinha na XIV Conferência de chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), disse registar “com satisfação” que os jovens, à escala global, “se mostram conscientes das preocupações de formação de uma nova ordem mundial, de guerras geoestratégicas, de migrações sem precedentes, de mudanças climáticas, de fortes assimetrias entre países industrializados e desenvolvidos e países fornecedores de matérias-primas e subdesenvolvidos — os ‘termos de intercâmbio’ são, desgraçadamente, desiguais”.

“O crescimento terá de ser necessariamente inclusivo e ambientalmente sustentável”, frisou.

Referindo-se à realidade do seu país, e também de São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, que definiu como “pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento”, salientou que os três sofrem “de forma particular, as nefastas consequências das alterações climáticas, eventualmente mais gravosas do que nos demais membros” da CPLP.

“Localização remota, reduzida dimensão territorial e demográfica, a exposição aos efeitos climáticos extremos contribuem para uma maior vulnerabilidade económica e ambiental”, afirmou.

Em seguida, José Maria Neves abordou a insegurança alimentar que se vive nalguns espaços dos Estados-membros e, socorrendo-se de uma afirmação feita no passado pelo seu homólogo brasileiro, Lula da Silva, declarou que “muitas pessoas não conseguem tomar café, almoçar e jantar todos os dias”.

“Reclamamos da subida dos preços dos combustíveis e da insegurança energética. A verdade é que uma percentagem apreciável da população não tem acesso à eletricidade. A isto se junta muitos jovens, ainda em idade escolar, mas que não frequentam a escola, por razões diversas”, salientou.

“Em muitos casos, o sistema de saúde é precário e quase inacessível para uma parte considerável da população. Por esta realidade afetar principalmente a juventude, tudo isto deve merecer uma profunda reflexão”, defendeu, considerando que “ainda há muito ‘trabalho de casa’ a ser feito” pelas atuais lideranças da CPLP “em benefício dos jovens”, que esperam respostas mais assertivas.

Esses “feixes de problemas” devem ser prioridades da CPLP, destacou, sugerindo que se integrem “os direitos e deveres dos jovens, com destaque para a garantia de acesso ao sistema de ensino e à formação, capacitando-os para enfrentar o mercado de trabalho, cada vez mais global e mais competitivo, e poder construir projetos de vida com perspetivas de futuro — por enquanto, um sonho de muitos — de mais realização e dignidade”.

O Presidente cabo-verdiano abordou ainda a questão da mobilidade no seio da CPLP e defendeu “a necessidade de desapertar alguns espartilhos que ainda cerceiam a mobilidade e o intercâmbio de jovens”.

Essas dificuldades “em nada favorecem a tão necessária e requerida troca de experiências”.

“Os constrangimentos, que doravante persistem, condicionam a implementação de programas em diversas áreas, nomeadamente no ensino, formação, cultura e desporto. De forma consistente, devemos envidar esforços para superar estas dificuldades”, concluiu.

A CPLP, que integra Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, realiza hoje a XIV conferência de chefes de Estado e de Governo, em São Tomé e Príncipe, sob o lema “Juventude e Sustentabilidade”.