A República Islâmica assinou, em Viena, em 2015, um Plano de Ação Conjunto Global (PAGC, JCPOA em inglês) com o grupo 5 + 1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha) no qual aceitou conter drasticamente as suas atividades nucleares em troca da flexibilização das sanções internacionais contra o país.

Este pacto esteve prestes a ser completamente rasgado quando o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou unilateralmente o país do acordo, em maio de 2018, e restaurou sanções que mergulharam a República Islâmica numa recessão profunda.

Em resposta, o Irão deixou de cumprir, a partir de maio de 2019, a maioria dos principais compromissos assumidos em Viena.

“A qualquer momento, assim que o 5 + 1 ou o 4 + 1 [o 5 + 1 menos os Estados Unidos] regressarem ao cumprimento de todos os seus compromissos, também regressaremos a todos os compromissos que assumimos”, afirmou Rouhani, num discurso realizado no conselho de ministros e divulgado na televisão.

“Já o tinha dito: não será preciso muito tempo, é só uma questão de vontade”, acrescentou o Presidente iraniano.

Apesar das críticas dos ultraconservadores iranianos, Rohani reiterou a sua vontade de resolver diplomaticamente a crise causada pela saída dos Estados Unidos do acordo de Viena, dizendo que está decidido a não perder “a oportunidade” que representa a mudança de Presidente prevista em Washington, com a eleição de Joe Biden.

O Presidente do Irão admitiu que as sanções dos Estados Unidos estão a dificultar a compra de medicamentos e material de saúde ao estrangeiro, incluindo as vacinas contra a covid-19, necessárias para conter o pior surto do Médio Oriente.

A administração Trump impôs sanções que paralisaram a indústria – vital para o Irão – do petróleo e gás, mas também o setor bancário.

Embora os Estados Unidos assegurem que medicamentos e produtos humanitários estão isentos das sanções, as restrições ao comércio fizeram muitos bancos e empresas de todo o mundo hesitarem em fazer negócios com o Irão, temendo represálias de Washington.

O país também está isolado do sistema bancário internacional, dificultando a transferência de pagamentos.

“O nosso povo deve saber que, qualquer ação que queiramos fazer para conseguir importar medicamentos, vacinas e equipamentos, devemos amaldiçoar Trump uma centena de vezes”, afirmou Rouhani citado pela agência de notícias oficial IRNA.

O Presidente iraniano acrescentou ainda que, mesmo transações simples para comprar medicamentos noutros países, tornaram-se extremamente difíceis, desde logo porque pode levar semanas para o país conseguir transferir fundos.

Rouhani adiantou que as autoridades estão a fazer o que podem para comprar vacinas no estrangeiro, na esperança de as aplicar na população de maior risco o mais rapidamente possível.

Na semana passada, o Irão disse estar a desenvolver a sua própria vacina, adiantando que os testes em humanos estão previstos para o próximo mês.

Ainda assim, o país pretende comprar 20 milhões de doses de vacinas do estrangeiro para uma população que contabiliza mais de 80 milhões de pessoas.

O Irão relatou mais de 50.000 mortes causadas pelo coronavírus e mais de um milhão de casos confirmados, o que representa o pior surto de covid-19 no Médio Oriente.

Nas mãos dos conservadores desde as eleições legislativas de fevereiro (marcadas por uma abstenção recorde), o parlamento iraniano aprovou, em 02 de dezembro – contra o conselho do Governo -, uma lei que, se aplicada, ameaça reenviar a questão nuclear iraniana ao Conselho de Segurança da ONU, o que ditará a sentença de morte definitiva deste acordo.

A lei tem, no entanto, de ser promulgada por Rohani e validada pelo Conselho de Guardiães da Constituição, mas o Presidente deu hoje a entender que não pretende assinar o texto.