Na quinta-feira, a SIC noticiou que Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ainda não tinha sido contactado pelo primeiro-ministro, António Costa, na sequência das cheias que afetaram a capital, provocadas pelas condições meteorológicas adversas da última semana.

Segundo o canal televisivo, houve apenas apenas dois contactos oficiais do Governo com a autarquia, um do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e outro de Mariana Vieira da Silva. No sentido inverso, Carlos Moeda contactou com o ministro da Educação para articular decisões sobre fechar ou não escolas, e com a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar.

Questionado pela SIC, sobre o silêncio de António Costa, o adjunto do primeiro-ministro lembra que é a ministra da Presidência quem está a coordenar a operação no terreno e que, apesar disso, o chefe do Governo está a acompanhar toda a situação.

Ao final do dia, o chefe do executivo português foi confrontado sobre o facto de não ter ainda falado com Carlos Moedas, mas desvalorizou o assunto.

“Se for necessário contactá-lo-ei, qual é o problema?”, disse António Costa, no final da conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho Europeu, dizendo ao jornalista que lhe fez a pergunta para não se "preocupar com o assunto".

António Costa, que mora em Benfica, uma das zonas muito afetadas pelo mau tempo, disse também que Carlos Moedas não lhe ligou depois de ver a sua casa inundada. “Pergunte-lhe porque é que ele não me contactou a mim, que tive a casa inundada”, disse.

O facto viria já hoje a ser esclarecido pela TSF e não, a casa do primeiro-ministro não ficou inundada, uma vez que este habita no terceiro andar do prédio. Nesse edifício houve realmente um problema, mas foi na garagem, que serve os vários andares e onde alguns carros ficaram submersos, o que não foi caso de qualquer viatura de António Costa, garante Ricardo Marques, presidente da Junta de Freguesia de Benfica.

Do bairro lisboeta há, sim, lamentos pela ausência de uma palavra de apoio do vizinho primeiro-ministro. "O senhor primeiro-ministro deve andar muito ocupado, mas pelo menos deveria dar alguma força aos comerciantes perto da casa dele, que é uma zona de muito comércio", disse António, proprietário de uma loja de colchões, à TSF.

Carlos Moedas foi hoje confrontado sobre o tema pelos jornalistas, à margem do debate “Como concretizar a Transparência e Prevenção da Corrupção na Câmara Municipal de Lisboa?”, que decorreu no Teatro Aberto, tendo confirmado que não fez, nem recebeu, um telefonema a António Costa, e desvalorizou a situação, referindo que como presidente da câmara esteve presente “nas ocorrências mais graves” e teve telefonemas de outros membros do Governo, nomeadamente o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa. Por isso, disse, o município teve “esse acompanhamento, de certa forma”.

Questionado sobre a ausência de visitas dos membros do Governo ao município de Lisboa, como aconteceu em Loures (câmara presidida por Ricardo Leão, do PS) e em Oeiras (sob a presidência do independente Isaltino Morais), o autarca do PSD relativizou: “As visitas são as visitas. Eu terei muito gosto em receber os membros do Governo, […] mas não está marcado nada”.

“Não vamos levar isto para um caso pessoal ou para um telefonema. Eu, do meu lado, estou bem. Não quero criar mais fricção. Não quero aqui criar mais irritação. Espero que isto não crie mais irritação. Acho que não é bom para a política, mas sobretudo desfocaliza daquilo que é importante nesta situação, que são as pessoas, as dificuldades, os danos que tiveram”, afirmou Carlos Moedas, reforçando que o que interessa agora é ajudar os lisboetas e reiterando o pedido de apoio por parte do Governo.

Recordando que foi eleito pelos lisboetas para governar a capital, o social-democrata frisou que esteve e continuará a estar ao lado dos mais afetados pelo mau tempo, uma situação “muito difícil” que acompanha “há 10 dias”, inclusive com visitas ao terreno.

“Só posso responder com as mesmas palavras do senhor primeiro-ministro: ‘O PS tem que se habituar’”, acrescentou Carlos Moedas, referindo-se à derrota dos socialistas em Lisboa nas eleições autárquicas de 2021.

Já Marcelo Rebelo de Sousa, também chamado pela comunicação social a comentar o caso, defendeu que os políticos com responsabilidades nacionais, como é o seu caso, "devem acompanhar o que se está a fazer nas autarquias" em situações graves como cheias, mas acrescentou que "cada estilo é o seu estilo".

"Não quero ser eu a estar propriamente a formular um juízo sobre a maneira como os responsáveis políticos em cada caso reagem", declarou o chefe de Estado, que estava acompanhado por Carlos Moedas, na 34.ª Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz para pessoas em situação de sem-abrigo.

Em termos gerais, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "é muito importante que as populações sintam que o poder está próximo, aqueles que têm responsabilidades estão próximos", e acrescentou que "os que têm maior responsabilidade e que têm a situação mais difícil são os autarcas, os presidentes de câmara, os responsáveis pelas freguesias".

"Os que estão teoricamente mais distantes – eu falo pela minha maneira de fazer – devem acompanhar aquilo que se está a fazer nas autarquias, mas isso cada estilo é o seu estilo e não se repetem os estilos nem se repetem as situações", completou.

Interrogado em seguida se o primeiro-ministro deveria ter contactado o presidente da Câmara Municipal de Lisboa durante as recentes inundações, Marcelo Rebelo de Sousa evitou uma resposta direta e referiu qual foi a sua atuação: contacto permanente com Carlos Moedas e outros autarcas e, na primeira noite de cheias na capital, deslocação conjunta ao terreno.

"Eu posso falar por mim. Fiz o que sempre fiz, e aqui fiz numa situação em que pensava que se justificava fazê-lo", disse.

A história encerra-se com a pela voz de António Costa que, esta tarde, pediu desculpa pelas declarações de ontem: “Estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa”