• Após o avanço anunciado na última ronda de negociações quanto à possibilidade da criação de corredores humanitários para evacuar civis das hostilidades entre a Ucrânia e a Rússia, o Kremlin anunciou hoje a abertura de seis vias de fuga para a população;
  • Os corredores foram abertos a partir de Kiev, Mariupol, Kharkiv e Sumi. O problema, é que os seus destinos foram todos eles cidades bielorrussas, russas ou ucranianas sob controlo russo: Gden e Gomel no primeiro caso, Rostov-on-Don e Belgorod no segundo, Mangush e Poltava no terceiro.
  • Sem surpresas, esta opção não agradou a Kiev, que considerou "inapropriada qualquer tentativa de Moscovo de fazer com que civis em cidades sitiadas fujam para o território da Rússia e da Bielorrússia, tendo em conta a alta probabilidade de provocações, levando os refugiados como reféns ou usando-os como escudos humanos para as Forças Armadas russas". É uma iniciativa “completamente imoral”, acusaram.
  • Além disso, como tem sido apanágio desde o início da guerra, houve acusações de parte a parte quanto à eficácia dos corredores. Do lado russo, Vladimir Medinsky, chefe da delegação do Kremlin nestas negociações, acusou a Ucrânia de ter impedido a retirada de civis das zonas de combate: “Os nacionalistas que tomaram posições nas cidades continuam a manter lá civis e a utilizá-los direta e indiretamente, inclusive como escudos humanos, o que é obviamente um crime de guerra”.
  • Já os ucranianos dizem que Moscovo “sabotou" os corredores humanitários acordados, já que "continuam os bombardeamentos e ataques com foguetes” em Kiev, Mariupol (sudeste), Volnovakha (sudeste), Sumy (nordeste), Mykolaiv (sul), Kharkiv (leste) e outras cidades, vilas e aldeias. (...) A evacuação por corredores humanitários só é possível quando um regime de cessar-fogo for totalmente implementado".
  • Perante este passa culpas, as negociações marcadas para hoje — a terceira sessão desde o início do conflito — pareciam, à partida, condenadas. Contudo, depois do encontro, o negociador ucraniano adiantou que foram conseguidos “pequenos desenvolvimentos positivos” quanto à logística dos corredores humanitários.
  • Boas notícias? É preciso esperar para ver, até porque o lado russo disse que a nova ronda de negociações com a Ucrânia não esteve 'à altura das expectativas'. Segue-se o encontro desta quinta-feira entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Ucrânia, em Antalya, na Turquia, sendo mediado pelo seu homólogo turco.
  • Enquanto as indefinições se arrastam, os civis continuam a ser visados pelas bombas e balas. Hoje ficámos a saber de que um bombardeamento numa padaria industrial em Makariv, a oeste de Kiev, causou, pelo menos, 13 mortos. Já o ataque ao aeroporto de Vinnytsia, 200 quilómetros a sudoeste da capital, resultou em nove vítimas mortais. Além destas mortes, regista-se ainda a de Yuri Illich Prylypko,  presidente da cidade de Gostomel, que terá falecido “enquanto distribuía pão e remédios aos doentes”.
  • À medida que os ataques prosseguem, os ucranianos continuam a fugir do país. Lviv, cidade ponto de passagem para o ocidente, já não tem capacidade para acolher mais pessoas. Ao todo, estima-se que já tenham abandonado a Ucrânia 1,7 milhões de pessoas, segundo um balanço divulgado pelas Nações Unidas.
  • O número, porém, pode vir a ser muito maior. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, cifra em cinco milhões o número de refugiados que poderão chegar ao espaço dos 27.
  • A pressão internacional mantém-se, com novas sanções impostas pela Nova Zelândia e o Canadá. A União Europeia está a considerar agravar as que já colocou em prática, mas a dependência energética da Europa pesa sobre as decisões. A UE importa 40% do seu gás da Rússia e muitos países não são a favor de um embargo, cujo impacto seria privar Moscovo de rendimentos essenciais. O chanceler alemão, Olaf Scholz, já veio dizer que as importações de energia fóssil da Rússia são "essenciais" para a "vida diária dos cidadãos" europeus e que, por agora, o abastecimento do continente não pode ser garantido de outra forma.
  • Joe Biden discutiu hoje a situação na Ucrânia com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, por videoconferência. Deste encontro virtual, os quatro "afirmaram a sua determinação em continuar a aumentar os custos para a Rússia pela invasão da Ucrânia, não provocada e injustificada", segundo um comunicado do governo norte-americano.
  • No que toca à atuação portuguesa, além dos inúmeros contributos já feitos com o envio de ajuda humanitária, Portugal recebeu já 2.674 pedidos de proteção temporária de refugiados ucranianos. Além disso, a plataforma criada pelo Governo para reunir ofertas de trabalho de empresas para refugiados ucranianos em Portugal já recolheu 13.600 propostas de “todo o território”, disse hoje a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
  • Marcelo Rebelo de Sousa convocou uma reunião do Conselho de Estado para 14 de março, às 15:00, no Palácio da Cidadela, em Cascais, "com um único ponto da ordem de trabalhos: a situação na Ucrânia".