23 de abril de 2019, Centro de Congressos de Alcântara. António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS discursa no jantar de aniversário do partido. A dada altura, começa a ser bombardeado por aviões de papel. 13 ativistas do movimento Extinction Rebellion Portugal começam assim um inusitado protesto, um alerta para as consequências da construção de um aeroporto no Montijo.
Francisco Pedro, hoje com 24 anos, interrompe António Costa e tira-lhe o microfone. É exibida uma faixa com a mensagem: “mais aviões? Só a brincar. Precisamos de plano B, não há planeta B”, descreve a Renascença.
Quase dois anos depois,Francisco foi notificado pelo Ministério Público. É-lhe imputada a responsabilidade de “perturbar a ordem e tranquilidade públicas”, de organizar a manifestação e de não ter comunicado com antecedência a sua realização à câmara municipal de Lisboa.
“Francisco Pedro não comunicou a realização da aludida manifestação, por escrito, ao presidente da câmara de Lisboa, nem nos dois dias úteis imediatamente anteriores à sua realização, nem antes ou após essa data”, cita a Renascença, que teve acesso ao despacho do Ministério Público.
Com julgamento marcado para 13 de janeiro do próximo ano, o jovem ativista ficou surpreendido. “Por outro lado”, conta, “acho que é muito revelador das instituições que temos, que, quando perante um crime realmente grave para todos, como a expansão aeroportuária, os nossos recursos, os nossos impostos estejam a ser usados numa acusação tão absurda como esta”.
Para Francisco Pedro, parece claro que há “uma tentativa de castigar quem ousa bater-se por aquilo em que acredita, por uma causa justa. Outra coisa que torna óbvia a importância de cada vez mais de nós e mais pessoas desobedecerem quando as leis são injustas e quando as pessoas que têm responsabilidade enveredam por medidas tão perigosas para todos nós”, diz.
O Ministério Público identificou ainda outros cinco manifestantes. Todos, porém, recusaram depor e não identificaram Francisco Pedro como o organizador do protesto no jantar dos socialistas. Segundo o despacho da acusação, tendo em conta que colaboraram e que não “ofereceram resistência” quando foram retirados do evento do PS, os crimes que lhes eram imputados foram arquivados, revela ainda a Renascença.
“Sou uma pessoa que se preocupa imenso com o planeta onde vive e que acha que a espécie humana tem aqui algo mais para fazer que ser extinta na próxima geração, então a questão da expansão aeroportuária preocupa-me imenso”, diz o jovem ativista, ligado a vários movimentos ambientalistas.
Para ele, o facto de o crime de que está acusado poder ter uma pena de prisão de até dois anos “não é realmente preocupante, ao lado do problema que todos juntos a enfrentar: a extinção em massa, a perda de biodiversidade, o caos climático”.
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