Os últimos balanços oficiais apontam para 133 mortos e mais de uma centena de feridos.

Hoje de manhã, no centro comercial Fort, na região norte de Moscovo, as pessoas entravam e saíam num movimento que parecia natural, se bem que aparentassem uma maior seriedade e apreensão.

Neste espaço, que abriga marcas de todo o mundo, a agência Lusa falou com alguns dos que por ali passavam.

“Que dizer desta tragédia, em que possivelmente morreram e ficaram feridas centenas de pessoas? Morreu gente pacífica, mulheres, aos gritos, foram fuziladas à queima-roupa. Houve pessoas que se esconderam nas casas de banho e morreram asfixiadas”, disse Arsénio Lobanov, 46 anos, gerente bancário.

Este bancário disse não acreditar que o “Ocidente introduza tropas na Ucrânia”, mas admitiu que “será muito reforçado o contingente dos países limítrofes integrantes da NATO, como a Lituânia, Polónia e Finlândia”.

“Porque vão as pessoas a concertos em tempos de guerra? Parece que não têm noção. Estava-se à espera de algo parecido, porque vivemos num tempo surrealista”.

E quanto a mudança de hábitos, de rotinas? “Não, não vou mudar. Eu e a minha mulher já não íamos a lado algum. O meu receio é o de que este atentado seja aproveitado para impulsionarem a escalada do conflito em que o povo russo está envolvido”.

Alexandra, 20 anos, balconista numa pequena cafetaria deste centro comercia, salientou que esta "foi uma tragédia” e que se devem tomar todas as “medidas para evitar que aconteçam mais episódios de terror como este".

"Foi assustador tomar conhecimento da notícia. Espero, agora, que as forças e serviços que se mostraram ontem [na sexta-feira] na salvação do que se podia ainda salvar se empenhem em deitar a mão aos criminosos”, referiu.

A partir de agora, disse que irá “trabalhar mais conscientemente, sabendo que o drama se pode repetir”.

“Ontem [na sexta-feira], reunimo-nos com os companheiros e discutimos o que fazer se algo de parecido acontecer aqui, como não entrar em pânico, como agir, como ajudar as pessoas. Cada um tem de ter atenção para consigo e para com os seus próximos”.

Também Ana, 37 anos, funcionária pública, defendeu que “só se pode encarar o que aconteceu ontem [na sexta-feira] como uma grande tragédia. As pessoas estavam a descansar, a divertir-se e, subitamente, veem-se cercadas por um perigo mortal”.

Esta funcionária pública garantiu que irá mudar algumas rotinas, como cancelar encontros que tinha marcado ou uma ida ao teatro no próximo fim de semana”.

Narguiza, 48 anos, funcionária de limpeza da zona de restauração do centro, também transmitiu os seus receios.

“Nem sei o que pensar deste ato terrorista. Sei que é difícil este momento, sobretudo para quem perdeu familiares na tragédia”.

“Quero ir à minha terra, por um mês, mas nem sei se volto a Moscovo. Ninguém sabe o que pode acontecer mais depois do ato terrorista de ontem”, referiu.

Um estudante de 20 anos, Arsénio, falou da reação das autoridades, nomeadamente de emergência.

“Assistimos a um pesadelo, mas acho que as nossas forças de emergência agiram organizadamente e com rapidez. Por outro lado, será que não podia ter sido prevenido o ato levado a cabo por cinco terroristas? Porventura as pessoas que estavam na sala de concertos perderam o sentido do perigo que as ameaçava, mostraram-se descuidadas. Talvez estejamos a perder a memória do que acontecia no passado e que agora se repete”.

Quanto a mudar de hábitos, “isso não”, garantiu.

“Não vou alterar nada na minha vida, pois sei que a história é cíclica: no passado aconteceu, hoje acontece e amanhã acontecerão crueldades como as que aconteceram ontem. Lamentavelmente, até agora, ninguém conseguiu acabar com as guerras no mundo”.

Pelo menos 133 pessoas morreram no ataque de sexta-feira a uma sala de concertos nos arredores do Moscovo, reivindicado pelo Estado Islâmico (EI), anunciou hoje a Comissão de Investigação.

Nos hospitais de Moscovo e na região desta cidade encontram-se 107 feridos no atentado.

Segundo fontes médicas, 44 pessoas encontram-se em estado grave e outras 16 vítimas, entre as quais uma criança, em estado muito grave.

O atentado, que os meios de comunicação social russos começaram a noticiar por volta das 20:15 de Moscovo (17:15 em Lisboa), foi levado a cabo por vários indivíduos armados na Crocus City Hall, uma sala de espetáculos situada em Krasnogorsk, nos arredores da capital russa, informou a AFP.

O Presidente russo, Vladimir Putin, já condenou o ataque terrorista que classificou de "bárbaro" e cujos responsáveis disse terem sido detidos quando fugiam para a Ucrânia.

*Por José Augusto, da agência Lusa