
Por distração ou descuido, a maçã que já estava mordida caiu ao chão. Imediatamente entra em vigor a "regra dos cincos segundos": se formos rápidos, não há problema em continuar a comer. É só sacudir eventuais detritos e prossegue a alimentação.
Quem diz com uma peça de fruta, diz com tantos outros alimentos. Mas é mesmo seguro... e verdade?
Ana Isabel Pedroso, especialista em medicina interna e medicina intensiva, explica ao SAPO24 que "a contaminação de um alimento ao entrar em contacto com uma superfície depende de múltiplos fatores: o tipo de alimento, a natureza da superfície e a carga microbiana presente".
"Sabemos que a transferência de bactérias pode ocorrer instantaneamente, independentemente do tempo de exposição. Assim, a regra dos cinco segundos é mais um mito do que uma verdade", nota.
Contudo, é um pressuposto muito presente na sociedade. "A ideia de que podemos ingerir alimentos que caíram ao chão sem risco, desde que os recolhamos rapidamente, é amplamente difundida e muitas vezes defendida. Resta saber se os microorganismos sabem que têm cinco segundos para infetar o alimento", evidencia a médica.
Neste sentido, é preciso ver os riscos associados. "O solo e outras superfícies podem estar contaminados com microrganismos como Salmonella, Escherichia coli e Listeria monocytogenes, microrganismos potencialmente perigosos, sobretudo para grupos vulneráveis como crianças pequenas, idosos e imunossuprimidos. Além disso, a humidade do alimento facilita a adesão de bactérias, tornando o risco ainda maior para alimentos húmidos ou pegajosos".
No que diz respeito às crianças, é também muitas vezes difundido que precisam de estar em contacto com todo o tipo germes para desenvolver imunidade — mas é necessário ter alguns fatores em atenção.
Ana Isabel Pedroso frisa que "existe uma teoria conhecida como 'hipótese da higiene', que sugere que a exposição controlada a microrganismos pode contribuir para o desenvolvimento do sistema imunitário, reduzindo o risco de doenças autoimunes e alergias".
"No entanto, isso não significa que qualquer exposição seja benéfica ou desejável. O desenvolvimento imunológico ocorre de forma equilibrada, com desafios imunológicos naturais, e não através da ingestão voluntária de alimentos contaminados", avança.
Portanto, feitas as contas, "a regra dos cinco segundos não deve, obviamente, ser usada como critério de segurança alimentar. A contaminação ocorre instantaneamente e ingerir alimentos que caíram ao chão pode representar riscos reais".
"Embora a exposição a microrganismos faça parte do desenvolvimento imunológico, deve ser feita de forma natural e controlada, sem recorrer a práticas potencialmente perigosas. Assim, por mais tentador que seja resgatar aquele pedaço de comida que caiu ao chão, a melhor opção é descartá-lo e optar pela segurança e saúde, sempre", remata.
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