Em entrevista à TVI, Rui Rio criticou o modelo económico do atual executivo, que comparou à cigarra da fábula de La Fontaine e considerou “justas” as reivindicações dos professores, embora salvaguardando que nunca poria o equilíbrio orçamental em causa para satisfazer a pretensão de qualquer classe particular.

“Tem de se arranjar uma solução intermédia que não pode ser os nove anos aplicados por inteiro no Orçamento do Estado para 2019”, defendeu, considerando que se pode diluir a reposição dos anos de serviço no tempo ou encontrar outras formas de negociação, como as reformas antecipadas.

O líder do PSD disse até estar convencido de que “o Governo já tem uma solução” para o conflito com os professores e que esta “vai acabar por ser moeda de troca para a passagem do Orçamento do Estado”.

Sobre a proposta orçamental do executivo, Rio voltou a dizer que não pode antecipar o sentido de voto do PSD em relação a um documento que desconhece, mas considerou que “o lógico” é que este seja aprovado pelos partidos à esquerda que suportam o Governo, caso contrário “seria mau para todos”.

“Se o Orçamento chumbasse, em bom rigor António Costa teria de viabilizar um Governo PSD/CDS. Ele não disse em 2015 que só chumbou o Governo de Passos Coelho porque conseguia maioria à esquerda? Se agora não conseguisse, devia pedir desculpa e apoiar um Governo PSD/CDS, desde que o Presidente da República também aceitasse”, disse, lembrando que foi esta coligação a força mais votada nas legislativas de 2015.

Numa entrevista de cerca de meia hora, Rui Rio procurou apontar o que faria de diferente em relação ao modelo económico do atual Governo, dizendo que se fosse primeiro-ministro “tinha sido mais comedido e apostado mais no futuro e menos no presente”.

“O primeiro-ministro disse recentemente que o PS não é a carochinha e tem razão, o PS é mais como a cigarra”, criticou, invocando a fábula de La Fontaine, em que, ao contrário da formiga, a cigarra prefere cantar a amealhar nos tempos fáceis para os momentos difíceis.

O presidente do PSD admitiu que teria devolvido os salários e pensões “de forma mais cadenciada” e teria aproveitado o crescimento económico para diminuir ainda mais o défice e a dívida, “que atingiu um máximo recorde”.

Rui Rio apontou que o crescimento económico do país poderia ser muito melhor – “é o quarto pior da União Europeia” – e que, apesar do desemprego ter baixado muito, a produtividade também desceu.

“São empregos enquadrados num modelo económico de baixos salários”, lamentou, apontando que os quadros mais bem preparados do país continuam a emigrar.

Para o presidente do PSD, o modelo de crescimento tem de assentar nas exportações e no investimento, acusando o atual Governo de estar mais virado para o consumo e não ter “nenhuma política para acarinhar o investimento”, nomeadamente estrangeiro.

Como princípio geral de uma política do PSD num futuro Governo, Rio apontou: “Eu se fosse primeiro-ministro, quando for primeiro-ministro, nunca porei em causa o equilíbrio orçamental português e farei tudo para que divida pública se reduza, isto serve para tudo”.

O presidente do PSD considerou que esta máxima se aplica também na questão dos professores, embora classificando esta classe como “importantíssima” e que, na sua maioria, recebe “baixos salários” e não tem direito a qualquer subsídio quando os profissionais estão deslocados, ao contrário do que acontece por exemplo com os magistrados.

Questionado sobre propostas do PCP e do BE, como a diminuição da taxa do IVA na eletricidade ou o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) acima dos 600 euros, Rio disse que “é muito difícil não se estar de acordo com as medidas propostas” por estes dois partidos.

“O problema não é estar de acordo, é se é possível ou não”, sublinhou, defendendo, contudo, que, no domínio da energia, seria possível baixar a fatura dos portugueses através de um “combate melhor às rendas excessivas da EDP” e que se deve anualmente “forçar a subida do SMN acima da inflação”.

Já sobre a redução das 40 para as 35 horas na função pública, o líder social-democrata classificou-a como “uma irresponsabilidade completa” sobretudo no setor da saúde, acusando o Governo de não ter preparado a administração pública para esta mudança.

“Ou põem isto a funcionar direitinho ou, se não há condições, tem de se voltar para as 40 horas”, defendeu.

[Notícia atualizada às 22:36]